Depois de dez dias na
“ilha de Vera Cruz”, a armada de Pedro Álvares Cabral levantou velas rumo ao
sul e dali seguiu em direção ao seu objetivo principal: atingir Calicute, nas
Índias, onde dois anos antes Vasco da Gama aportara. A viagem durou quinze meses,
foi cheia de surpresas, dificuldades, perdas e, pior, fez Cabral cair no
ostracismo e nunca mais voltar a navegar.
A FROTA DE CABRAL AO
SAIR DE LISBOA
Cabral era o chefe
militar da expedição que saiu de Lisboa, em 9 de março de 1500, composta por 10
naus e 3 caravelas, 1500 homens, sendo 700 soldados; os demais eram pessoas
comuns que não tinham nenhum treinamento ou experiência em combate anterior. Os
navegadores mais experientes foram destacados para acompanhar Cabral, entre
eles:
·
Bartolomeu Dias: famoso por ter contornado o Cabo das Tormentas em
1488, o que abriu caminho para atingir a Índia;
·
Diogo Dias: irmão de Bartolomeu e primeiro europeu a chegar a
Madagáscar
·
Nicolau Coelho: experiente nessa rota marítima pois participara da
viagem de Vasco da Gama.
No início da viagem,
na altura de Cabo Verde, a nau comandada por Vasco de Ataíde, com 150 homens,
desapareceu sem deixar vestígios.
A PARTIDA DA “ILHA DE
VERA CRUZ”
Depois de dez dias na
“ilha de Vera Cruz”, Cabral ordenou a partida da frota. Providenciou que a nau
comandada por Gaspar de Lemos retornasse a Portugal para dar as boas novas ao
rei. O navio, tripulado por 80 homens, levava toras de pau-brasil, amostras de
plantas recolhidas na nova terra e artefatos indígenas como arcos, flechas, cocares,
bodoques, além de duas araras que causaram espanto na Corte.
Junto foram enviadas
cartas de Cabral e dos outros capitães, dos escrivães incluindo Pero Vaz de
Caminha (que não era o escrivão oficial da expedição), religiosos, fidalgos e
as mensagens enviadas pelos soldados e marujos a seus familiares.
De toda essa
documentação só restaram a Relação do Piloto Anônimo e as cartas de Mestre João
Faras e de Pero Vaz de Caminha. Todo o restante desapareceu no grande incêndio
que se alastrou por Lisboa em 1580 ou no terremoto seguido de incêndio de 1755.
Na “ilha de Vera Cruz”
ficaram, ainda, dois degredados – Afonso Ribeiro e João de Thomar – além de
dois ou cinco grumetes que desertaram da nau capitânia. Os degredados
permaneceram vinte meses na terra tendo sido resgatados na expedição de Gonçalo
Coelho, em 1501-1502. No regresso a Portugal, os dois tiveram que dar um
depoimento minucioso sobre o que viram durante os quase dois anos que
permaneceram no que hoje é o sul da Bahia.
A CAMINHO DE CALICUTE,
ÍNDIA
A Relação do Piloto
Anônimo é o único testemunho direto sobre a continuação da viagem de Cabral.
Graças a esse documento ficamos sabendo o que aconteceu com Cabral na Índia.
A frota de Cabral,
agora com 11 navios, retomou sua missão rumo à Índia em 3 de maio de 1500.
Navegando ao longo da costa brasileira, em direção ao sul, convenceu-se pela
extensão da terra que se tratava de um continente, ao invés de uma ilha.
No dia 23 ou 24 de
maio, quando se aproximava do Cabo da Boa Esperança, caiu uma violenta
tempestade que ergueu ondas tão altas capazes de engolirem os navios. Quatro
naus naufragaram perdendo-se 380 homens, entre eles Bartolomeu Dias que doze
anos antes havia contornado, com sucesso, o mesmo cabo, então chamado Cabo das
Tormentas.
O navio de Diogo Dias
desgarrou-se e, navegando sozinho, foi parar em Mogadíscio, na Etiópia. Foi o
primeiro europeu a navegar o Mar Vermelho. Só seria encontrado um ano depois,
na viagem de regresso de Cabral.
PARADA EM QUÍLOA E
MELINDE, NA ÁFRICA
Os seis navios
restantes, muito danificados, chegaram, em 26 de maio, em Quíloa, ilha na costa
na atual Tanzânia. Ali existia um florescente comércio dominado por africanos
islamizados onde se trocava ouro e ferro do Zimbábue, escravos e marfim da
África Ocidental, por tecidos, porcelanas, joias e especiarias da Ásia.
Cabral tentou, sem
sucesso, negociar um tratado comercial com o governante de Quíloa. (Em 1502,
Vasco da Gama comandando a “Esquadra da Vingança” invadiria a ilha tornando-a
tributária de Portugal.)
De Quíloa, a frota de
Cabral partiu para Melinde, cidade fundada por mercadores suaíles, na costa do
atual Quênia. Ali reuniu-se com o rei local, com quem estabeleceu relações de
amizade e trocou presentes. A cidade já era conhecida pelos portugueses: Vasco
da Gama ali aportara em 1488 e conseguira um piloto para levá-lo a Calicute. O
mesmo aconteceu com Cabral.
FINALMENTE EM
CALICUTE, ÍNDIA
Com a expedição
reduzida a seis navios, Cabral chegou em Calicute em 13 setembro de 1500, seis
meses depois de deixar Lisboa.
Calicute, era a mais
importante cidade da costa ocidental da Índia, onde mercadores árabes e
chineses comercializavam havia séculos. Era governada pelo Samorim, corruptela
portuguesa de Samutiri, o “grande senhor do mar”, título do governante hindu de
Calicute.
Foi em Calicute que
Vasco da Gama chegou dois anos antes, em 20 de maio de 1498, e não teve sucesso
em suas negociações. As mercadorias que levou – bacias de cobre, potes de
açúcar e azeite – foram desdenhadas pelo Samorim e pelos mercadores locais
frente aos bens de alto valor ali comercializados. Os portugueses tiveram que
vendê-las por baixo preço para poderem comprar pequenas quantidades de
especiarias e joias para levar para Portugal. Vasco da Gama, contudo, conseguiu
obter uma carta ambígua de concessão de direitos para comercializar.
Cabral foi mais
generoso: presenteou o Samorim com moedas de ouro e prata e teve êxito nas
negociações: foi autorizado a instalar uma feitoria e um armazém na cidade. Por
três meses, os portugueses permaneceram neste rico centro comercial do Índico.
Até que a situação mudou.
O BOMBARDEIO DE
CALICUTE
A chegada dos
portugueses não foi bem-vinda pelos mercadores muçulmanos que controlavam as
principais rotas comerciais do Índico. E as tensões logo se transformaram em
conflito armado. Em dezembro a feitoria sofreu um ataque de surpresa de árabes
muçulmanos e indianos hindus. Os relatos divergem no número dos atacantes: de
300 a milhares.
Morreram cerca de 50
portugueses, entre eles Pero Vaz de Caminha e seis franciscanos.
Cabral esperou 24
horas para obter uma explicação do governante de Calicute, mas nenhum pedido de
desculpas foi apresentado. Indignado, ordenou o ataque e o saque de 10 navios
mercantes árabes ancorados no porto matando cerca de 600 tripulantes. Ordenou, também,
o bombardeio de Calicute por dois dias.
Em seguida, a
expedição de Cabral zarpou para Cochim, cidade hindu ao sul de Calicute. A
cidade era território vassalo de Calicute e viu nos portugueses a oportunidade
de se libertar do samorim. O rajá de Cochim autorizou a instalou de uma
feitoria portuguesa. Foi ali que Cabral acumulou as tão cobiçadas especiarias
para retornar a Portugal.
A VIAGEM DE VOLTA A
PORTUGAL
Em janeiro de 1501,
Cabral começou a viagem de retorno a Portugal com os navios carregados de
especiarias preciosas. Na costa da África, próximo a Melinde, um dos navios
encalhou em um banco de areia e começou a afundar. Como não havia espaço nos
demais navios, a carga foi abandonada e Cabral ordenou que a nau fosse
incendiada.
A esquadra ficou,
então, reduzida a cinco navios. Em 22 de maio de 1501, a armada dobrou o Cabo
da Boa Esperança, desta vez sem problemas. Em Bezeguiche, na altura da foz do
rio Senegal, onde hoje é Dakar, encontrou o navio de Diogo Dias – que se
desgarrara da frota havia mais de um ano, durante a tempestade no Cabo da Boa
Esperança. Restavam apenas sete homens a bordo, esquálidos e doentes. Um deles
morreu de emoção ao rever a frota de Cabral.
Em junho de 1501, a
armada de Cabral, adentrou o rio Tejo. Cabral foi recebido pelo rei D. Manoel I
no palácio de Santarém e muito festejado pelas especiarias que trouxera.
ESQUECIMENTO E
ABANDONO
Por seus feitos,
Cabral recebeu do rei uma pensão anual de 30 mil reais, muito menos do que os
400 mil reais dados em 1498 a Vasco da Gama.
Logo em seguida, D.
Manoel I começou a armar a “Esquadra da Vingança” que seria enviada para atacar
Calicute. Cabral foi convidado para participar da esquadra, cujo comando foi
dado a Vasco da Gama. Recusou, talvez por ter se indignado com o cargo inferior
de subcomandante que lhe foi oferecido.
Seja por esse motivo
ou por suas atitudes desastradas na Índia e o sacrifício de uma nau carregada
de riqueza, Cabral foi esquecido pelo rei.
Pedro Álvares Cabral
morreu na obscuridade, por volta de 1520, sem nunca ter retornado à corte e sem
ter jamais comandado outra frota. Foi enterrado no interior da Capela de São
João Evangelista na Igreja do Antigo Convento da Graça, de Santarém.
Seu túmulo ficou esquecido por trezentos anos até ser descoberto, em 1839, pelo historiador brasileiro Francisco Varnhagen. O estado de completo abandono em que o túmulo se encontrava quase provocou uma crise diplomática entre Brasil e Portugal. A pedido do imperador D. Pedro II, o corpo de Cabral foi exumado em 1882. Numa segunda exumação, em 1896, foi autorizada a remoção de uma urna contendo terra e fragmentos de ossos que foi trazida à Antiga Sé do Rio de Janeiro, em 1903. Os restos mortais continuam em Santarém, Portugal.
Fonte: https://ensinarhistoriajoelza.com.br/cabral-depois-do-descobrimento-do-brasil-expedicao-a-india/Blog:
Ensinar História/Joelza Ester Domingues>acesso em 01/11/2020.
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ATIVIDADE 8: CABRAL DEPOIS DO DESCOBRIMENTO
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