OLÁ GALERA,
Nessa atividade estudaremos mais 2 (dois) países que compuseram a rota dos escravos em direção ao brasil durante a diáspora negra da África para as Américas: Gana e Togo. Conheceremos também os africanos que retornaram à África após terem sido escravos no Brasil e suas histórias.
EPISÓDIO 5: GANA – LUGAR DA CONTRADIÇÃO:
ESCRAVIDÃO X LIBERDADE
Gana foi o primeiro país a
alcançar a independência em 1957. É por isso que ele é considerado o lugar de
uma retomada de uma unidade africana, da tentativa de se construir uma política
comum em torno do território africano.
OS TABONS
Acra velha, na capital de Gana,
é um bairro constituído de ex-escravos que retornaram para a África. Acra velha
é um bairro fundado pelos tabons, africanos retornados que foram escravos no
Brasil voltaram para a África e refizeram suas vidas. Esses tabons ocuparam uma
região litorânea de Acra e até hoje permanecem no local. Eram africanos
libertos, negros brasileiros libertos que voltaram para a África por alguns
motivos: um deles era o sonho de voltar para a terra natal após terem
conseguido a liberdade, outros retornaram por conta de terem participado da
Revolta dos Malês em 1835 e que tiveram como pena a volta compulsória para
África.
O curioso é que os primeiros
negros foram trazidos para a Nigéria. Chegando lá foram informados de que em
Gana haveria boas oportunidades de trabalho. Desses, 7 (sete) alfaiates foram
para Acra e se instalaram na região. Ocorre que eles não falavam a língua local
e, em geral, respondiam as demandas com a expressão “Tá Bom!”. Daí a
alcunha de serem chamados de povo do “Tá bom!” – ou seja, os tabons.
Eu acredito que a vontade de
reparar a enorme injustiça de ter sido arrancado de sua terra, tenha motivado
uma parcela dos africanos escravizados no Brasil a retornarem para a África e
aqueles que tiveram condição viveram esse sonho. (Milton Guran – Projeto Rota
dos Escravos, UNESCO)
A sociedade caminhando para a
globalização, para a sociedade de consumo, e esses povos indo na contramão onde
não tem esse apelo. Não é fácil você preservar esses valores que já não
representam quase nada para essa sociedade. Esses povos são os legítimos
herdeiros de São Jorge.
JONGO DA SERRINHA – RIO DE
JANEIRO
O jongo é uma manifestação
cultural de matriz afro-brasileira que se compõem de vários elementos. É uma
dança de roda trazida da África, da região do Congo e Angola, pelos negros
escravizados para trabalhar na lavoura do café no vale do Paraíba. Com o fim da
escravidão, essa gente vem para o Rio de Janeiro em busca de oportunidade de
trabalho. Então, os negros vão habitar os morros. E é nesse contexto que surgem
os núcleos de jongo que vão dar origem às rodas de samba. È uma dança que tem,
ou pelo menos teve na sua origem, uma religiosidade. Isso fica evidente com a
atitude dos dançarinos de se benzer tocando no tambor ao entrar na roda. (Rachel Valença, Filóloga)
A preservação dessa tradição
entre os negros escravizados dessa região era uma forma importante de tentativa
de liberdade por que a cultura é o último bastião da preservação de um povo.
UMA TERRA DE REINOS AFRICANOS
A grande característica
distintiva da África ocidental é que é uma região que foi tradicionalmente marcada
pela presença de grandes Estados que se sucedem, pelo menos desde o século IV.
Gana, Mali, Songhai, a Confederação Haussá. Os grandes Estados são importantes
por que o principal mecanismo de “produção” de escravos é a guerra. E a guerra
entre diferentes Estados ou a guerra contra comunidades tradicionais sem
Estado, ou em estágio de formação do Estado é a grande produtora de escravos. É
uma região que consegue alimentar a partir do século XVI a América de escravos,
mas que já conhecia a escravidão, pelo menos desde o século VII, em função das
necessidades do Império Muçulmano em expansão.
(Manolo Florentino – UFRJ)
ECONOMIA DA ESCRAVIDÃO
No século XVI, quando os
portugueses desembarcam e estabelecem as plantations de
cana-de-açúcar, num primeiro momento é o trabalho indígena que vai ser
utilizado em larga escala. Mas, por questões tanto culturais, quanto por
questões de ordem econômica, porque o tráfico negreiro acabava se convertendo
em uma atividade importante para os rendimentos da coroa portuguesa, eles
resolvem substituir a escravização indígena pela transmigração ou transporte de
africanos de um continente a outro.
A escravidão, de alguma forma,
estava entrelaçada ao tecido social brasileiro no período colonial, e também no
período imperial. E daí os africanos foram para todas as regiões do Brasil.
Num primeiro momento a Bahia,
juntamente com Pernambuco por conta da atividade açucareira; num segundo
momento, eles vão para a região das minas gerais, para prospecção do ouro; e já
no século XIX, que é um momento de fluxo mais intenso de escravos, eles vão
para o Rio de Janeiro, que havia despontado como maior produtor mundial de
café.
Até o século XIX, a escravidão
é, a forma mais eficaz de se obter trabalho de outrem para si. É a mais cruel,
sem dúvida nenhuma, mas é a mais eficaz conhecida no mundo inteiro.
O Castelo de São Jorge da Mina,
em Elmina, Gana, é um lugar emblemático da memória da escravidão. O lugar se
tornou uma referência por ser um lugar que recebia escravizados dos principais
grupos étnicos de Gana que reúnem os fang os axanti.
EPISÓDIO 6: TOGO – RELIGIOSIDADE DE RESISTÊNCIA
Parte da nossa relação com o continente africano vem daquilo que a religião foi capaz de manter como tradição. Ela nos foi transmitida oralmente. Os responsáveis pelos cultos ancestrais nos legaram um conhecimento sobre a África. Essa memória ligada ao sagrado nos legou uma herança capaz de nos permitir conhecimento sobre um passado que não teríamos acesso sem essa capacidade que a religião teve de manter tradições tão sólidas. (...) Os africanos que aqui chegaram trouxeram consigo diversas experiências religiosas de diferentes lugares do continente. E na Bahia, e no Brasil, eles são agrupados, como se fossem um único panteão, dando origem a maioria dos cultos de origem africana. (...) São pessoas de localidades diferentes, com devoções e culturas diferentes, que se agrupam em uma “comunidade de pertença”. O candomblé é uma referência negra de reconstituição de laços. (Paulo de Jesus – UFRB)
Na Bahia, os candomblés são chamados e agrupados em “nações”. Não são nações administrativas e políticas, são nações étnico-culturais e religiosas. Então, nós temos as nações divididas de acordo com suas origens: Congo-angola-Bantus, Ketu-Yourubás e Jejês-Vodus. Existem diferenças grandes entre os cultos dessas nações. (Yeda pessoa de castro – Etnolinguista)
É como se o terreiro, a
comunidade litúrgica, fosse uma metáfora espacial da África, um espaço de
re-territorialização da África no Brasil. Era ao mesmo tempo algo religioso,
cultural e político (não no sentido de poder, mas no sentido de comunidade) E
assim, o terreiro é um núcleo de resistência e continuidade da forma social negra
em sociedade. Não são núcleos puramente de crenças religiosas, são formas de recriação
da cosmovisão africana. (Muniz Sodré)
LUGARES DE MEMÓRIA DA ESCRAVIDÃO
1. MERCADO DE FETICHES – LOMÉA palavra fetiche foi estigmatizada pela cultura ocidental. Essa ideia estereotipada do vodu como magia negra, como religião organizada para causar o mal das pessoas. A aproximação foi nos ajudando a desmistificar essa visão e compreender que o vodu é, como outras, uma religião do amor.
2. CASA DE WOOD, ABODRAFO
O curioso é que a escravidão
era proibida e, portanto, os escravos eram mantidos escondidos no porão da casa
do mercador de escravos até que os traficantes viessem negociar e efetivar a
sua compra. A casa foi tombada como patrimônio pela Unesco.
3. TOGOVILLE, A CIDADE EM PALAFITAS
A cidade de Togoville foi
erguida “em cima das águas” por que havia uma necessidade de se defender do Império
de Daomé. Daomé promovia guerras de captura de negros para comercializar com os
portugueses. Os habitantes fugiam e se escondiam montando residências nos rios
onde o império, por razões de ordem religiosa e cultural, não penetrava durante
esses conflitos. O Togo tinha sido um protetorado germânico da época da
partilha no século XIX.
Nenhum comentário:
Postar um comentário