Olá Galera,
Na aula de História passada, seguindo os passos do antropólogo Darcy Ribeiro, discutimos o lugar da cultura portuguesa na formação do povo mestiço que se desenvolveria nessas terras, o povo brasileiro. Nessa aula queremos iniciar uma reflexão sobre o processo de ocupação predatória do território brasileiro iniciado com a exploração do pau-brasil, a primeira comoditie (produto de exportação) do Brasil. Para esse estudo propomos 2 (dois) textos selecionados: o texto "A floresta que Cabral encontrou..." da edição digital da revista de divulgação científica "SuperInteressante" da editora Abril; e trechos selecionados do artigo "A exploração do Pau-Brasil" de Joelza Ester Domingues para o site Ensinar História.
A FLORESTA QUE CABRAL ENCONTROU
Imagine-se na pele de um europeu que acaba de pisar na costa brasileira nos idos de 1500. À sua frente está uma floresta diferente de tudo o que você já viu. Árvores de todos os tamanhos, misturadas com orquídeas, cipós, samambaias, arbustos e ervas. No chão, sempre molhado, raízes e mudas disputam espaço. Sem falar nos enxames de insetos, no barulho dos pássaros e dos sapos, nos cheiros fortes, nos répteis e mamíferos que aparecem a cada passo dentro da selva, assustadoramente escura - pois apenas uns poucos raios de luz conseguem furar a cobertura cerrada de folhas, galhos e flores.
A Mata Atlântica foi a primeira paisagem que os colonizadores encontraram. Era exuberante e majestosa. Nada nela lembrava as florestas europeias, nas quais as plantas são pouco variadas e se distribuem de modo bem comportado. Um misto de assombro e fascínio tomou conta dos primeiros exploradores. Estariam diante do Éden? "Se o paraíso terrestre está localizado em alguma parte da Terra, julgo que não dista muito desta região", escreveu em 1502, extasiado, o navegador italiano Américo Vespúcio (1454-1512), que teve seu nome eternizado no novo continente. O encantamento dos forasteiros durou pouco. Logo eles começariam a destruir aquela floresta aparentemente inesgotável, dando início a uma tragédia ambiental que se agravou ao longo dos séculos e prossegue até hoje.
"Todo o Brasil é um jardim em frescura e bosque e não se vê em todo o ano árvores nem erva seca. Os arvoredos, de admirável altura, se vão às nuvens. Muitos dão bons frutos e o que lhes dá graça é que há neles muitos passarinhos de grande formosura e variedade. Os bosques são tão frescos que os lindos e artificiais de Portugal ficam muito abaixo. (José de Anchieta, Informação da Província para Nosso Padre, de 1585)
VEGETAÇÃO ESPLENDOROSA, CHÃO POBRE
Quando os portugueses chegaram, a Mata Atlântica ocupava mais de 1 milhão de quilômetros quadrados, 12% do atual território brasileiro (veja mapa abaixo). Mas não era, nem é, uma paisagem única e homogênea. Ela varia de norte a sul conforme a temperatura e altitude, mas obedece a um mesmo regime de chuvas, influenciado pela proximidade com o mar. Uma combinação singular entre esses fatores naturais fez da Mata Atlântica uma das florestas mais ricas em biodiversidade no mundo inteiro. "No sul da Bahia, numa área equivalente a apenas um campo de futebol, podemos encontrar mais de 450 espécies de árvores", afirma o arquiteto Clayton Lino, do Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica.
Apesar dessa exuberância, o solo da floresta é incrivelmente pobre. Na maioria das regiões, a terra se esgota em menos de três anos, se usada para a agricultura. Pero Vaz de Caminha se enganou ao afirmar, em sua famosa carta ao rei de Portugal, que "nesta terra, em se plantando tudo dá". "Os portugueses encararam aquelas árvores gigantescas como sinal de solo fértil", comenta o ambientalista Paulo Nogueira Neto, da Fundação SOS Mata Atlântica. "Mas essa fecundidade é superficial. Sua razão não está na terra, e sim na reciclagem dos minerais do solo - que se recompõem à medida que os restos das plantas e animais mortos apodrecem."
A Mata Atlântica começou a desaparecer assim que os colonizadores puseram os pés no novo continente. "Um dos primeiros atos dos portugueses que alcançaram a costa brasileira no dia 22 de abril de 1500 foi abater uma árvore para montar a cruz da primeira missa", lembra o historiador americano Warren Dean (1932-1994), no livro A Ferro e Fogo. Foi o prenúncio da devastação implacável que se seguiria. A exploração madeireira, o cultivo da cana-de-açúcar no Nordeste e a instalação de centros urbanos no litoral reduziram a 6% do tamanho original uma floresta que sobrevivera quase intacta aos primeiros 10 000 anos de presença humana na América do Sul.
Os índios a chamavam de ibirapitanga - árvore vermelha, em tupi. Para os europeus, que já a conheciam da Índia, era pau-brasil. O nome vem da palavra bersil, que significava brasa no português da época. Tem a ver com a cor vermelha do cerne do tronco, do qual se extraía um corante usado para tingir tecidos e fabricar tintas de escrever. As árvores de pau-brasil, com cerca de 20 metros de altura, distribuíam-se em grande quantidade por todo o litoral. A exploração foi tanta que, um século após a chegada de Cabral, cerca de 2 milhões de árvores haviam sido derrubadas. Os índios, que antes levavam três horas para tombar uma árvore com o machadinho de pedra, gastavam só 15 minutos com os machados de ferro dos europeus. Hoje a árvore típica da Mata Atlântica está restrita a alguns dos trechos remanescentes da floresta. (Fonte: Trechos selecionados da edição digital da revista “Super Interessante” pelo Profº Celso Barreiro, para o 7ºAno da E.M Luiz Jacob)
A EXPLORAÇÃO DO PAU-BRASIL NAS TERRAS PORTUGUESAS
O pau-brasil crescia em meio à Mata Atlântica, entre o Rio
Grande do Norte e o Rio de Janeiro, concentrando-se nas costas que hoje
correspondem ao Rio de Janeiro, sul da Bahia e Pernambuco.
A própria expedição de Cabral parece ter embarcado alguma
quantidade de toras de pau-brasil e quase todas as expedições de reconhecimento
ou guarda-costas enviaram toneladas de pau-brasil para Portugal que seguiam daí
para Amsterdam, onde o pó da madeira raspada era transformado em corante.
Em 1501, a exploração de pau-brasil foi arrendada ao
mercador Fernando de Noronha ou Loronha que, em 1504, foi agraciado com a
donataria no arquipélago que traz hoje o seu nome. O contrato de arrendamento
foi renovado até 1511, depois transferido a Jorge Lopes Bixorda. De 1513 em
diante, permitiu-se a livre exploração mediante o pagamento do quinto (20%) ao
rei.
A exploração do pau-brasil foi feita num ritmo tão feroz
que só no primeiro século de exploração, cerca de 2 milhões de árvores foram
derrubadas – uma espantosa média de 20 mil por ano ou quase 50 por dia. Cada
navio podia levar cerca de 5 mil toras por viagem. Não é de se estranhar,
portanto, que já em 1558, as melhores árvores só pudessem ser encontradas a
mais de 20 km da costa.
FEITORIAS, “BRASILEIROS” E REGIMENTOS
O negócio do pau-brasil estimulou a fundação de feitorias
em toda a costa brasílica. As feitorias eram simples galpões de madeira,
cercado por uma paliçada de toras pontiagudas, tendo por mobília apenas arcas e
caixotes e onde, ao longo do ano, ficavam apenas três ou quatro homens. Eles
eram chamados de “brasileiros”. O nome dado a esses traficantes ou coletores de
pau-brasil acabaria se estendendo a todos os nascidos no futuro país.
A MÃO DE OBRA INDÍGENA
O papel dos índios foi fundamental no processo de
exploração do pau-brasil, pois eram eles que derrubavam as árvores, cortavam as
toras e as transportavam para os navios. Era trabalho árduo considerando-se o
tamanho das árvores, a espessura dos troncos e seu peso. Os troncos,
duríssimos, variando de 20 a 30 metros de altura, depois de cortados, eram
transformados em toras de cerca de 1,5 metros que podiam pesar até 30 quilos
cada uma. Jean de Léry descreveu o trabalho estafante dos índios nas lides do
pau-brasil que carregavam nos ombros nus por duas a três léguas (de 13 a 20
quilômetros).
Em troca desse serviço, os nativos recebiam facas,
espelhos, miçangas, tesouras, agulhas, foices e, decerto, machados de ferro
para cortarem os troncos. A difusão do uso desses machados em substituição aos
de pedra aumentou imensamente a produtividade do trabalho, reduzindo em mais de
dez vezes o tempo para derrubada dos troncos. Daí entender que no século XVI
mais de 2 milhões de árvores tenham sido derrubadas e reduzidas a toras.
Os índios, por sua vez, souberam aproveitar a tecnologia dos instrumentos europeus para benefício próprio, incluindo machados e facas de metal nas suas guerras e nas atividades de subsistência. (Fonte: https://ensinarhistoria.com.br/exploracao-do-pau-brasil/ Blog: Ensinar História - Joelza Ester Domingues. Seleção de excertos de Celso Barreiro)
FORMULÁRIO DE QUESTÕES
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