ATIVIDADE 5: O HAITI É AQUI? RACISMO E LUTAS PELA LIBERDADE NA AMÉRICA

O HAITI É AQUI? O HAITI NÃO É AQUI?

AS LUTAS PELA LIBERDADE NA AMÉRICA E BRASIL


 OLÁ GALERA, Observe essas 2 (duas) imagens:





1)    A 1ª é uma foto de Porto Príncipe, capital do Haiti, um dia após o terremoto que atingiu aquele país em 12 de janeiro de 2010.

2)    A 2ª é de Brumadinho, cidade mineira afetada pela pior tragédia ambiental da história, 5 (cinco) anos depois quando a barragem do fundão, em Mariana rompeu em 05 de novembro. 

O que há de comum nessas 2 (duas) tragédias distantes no tempo e no espaço?

O que podemos dizer é que em Brumadinho (MG), assim como em Porto Príncipe (Haiti), o povo negro sofre as consequências de uma tragédia que poderia ter sido evitada “se a ganância do capital não ocupasse o território de forma predatória”; e o Estado, não cruzasse os braços diante da irresponsabilidade dos donos das empresas e das mineradoras. Mas, há mais coisas em comum na história desses dois países.

Em 1993, Caetano Veloso e Gilberto Gil lançaram “Haiti”, uma profética canção-manifesto sobre a realidade vivida pelos negros no Brasil. A música tinha um refrão curioso que dizia: "Reze pelo Haiti, Pense no Haiti". Ora, por que chamar a atenção para o Haiti no refrão, se no restante da letra não se fazia qualquer menção a esse país? Qual era a intenção dos compositores? Observe o que diz a letra da música HAITI:


HAITI (CAETANO/GIL – 1993)

Quando você for convidado pra subir no adro da fundação casa de Jorge Amado

Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos

Dando porrada na nuca de malandros pretos,

De ladrões mulatos, e outros quase brancos, tratados como pretos...

Só pra mostrar aos outros quase pretos (E são quase todos pretos)

E aos quase brancos pobres, como é que pretos, pobres e mulatos

E quase brancos, quase pretos, de tão pobres são tratados...

E não importa se os olhos do mundo inteiro possam estar por um momento

Voltados para o largo, onde os escravos eram castigados

E hoje, um batuque com a pureza de meninos uniformizados,

De escola secundária em dia de parada...

E a grandeza épica de um povo em formação nos atrai,

Nos deslumbra e estimula

Não importa nada:

Nem o traço do sobrado, nem a lente do fantástico,

Nem o disco de Paul Simon...

Ninguém, ninguém é cidadão!

Se você for a festa do pelô

E se você não for...

PENSE NO HAITI,

REZE PELO HAITI...

O HAITI É AQUI!

O HAITI NÃO É AQUI!

E na TV se você vir um deputado em pânico mal dissimulado

Diante de qualquer, mas qualquer mesmo, qualquer Plano de educação

Que pareça fácil, que pareça fácil e rápido

E vá representar uma ameaça de democratização do ensino do primeiro grau...

E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital

E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto

E nenhum no marginal...

E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual,

Notar um homem mijando na esquina da rua

Sobre um saco brilhante de lixo do Leblon

E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo diante da chacina:

111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos ou quase pretos,

ou quase brancos, quase pretos de tão pobres...

E pobres são como podres, e todos sabem como se tratam os pretos...

E quando você for dar uma volta no Caribe

E quando for trepar sem camisinha,

E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba...

PENSE NO HAITI,

REZE PELO HAITI...

O HAITI É AQUI!

O HAITI NÃO É AQUI!


O HAITI É AQUI?

Assista a declamação feita do Poema: "O Haiti não é aqui?" (Letra da composição) feita pelo ator Guilherme Weber e o clipe original da música "Haiti" dos compositores baianos produzida para o Programa Fantástico durante o lançamento do álbum:

O HAITI NÃO É AQUI? - GUILHERME WEBER

HAITI - GILBERTO GIL E CAETANO VELOSO

O RACISMO

O clipe da música Haiti inicia-se com os dois cantores, Gilberto Gil e Caetano Veloso (um negro, outro baiano), olhando para "o fundo de um poço" onde as águas espelham o seu próprio retrato. É uma provocação para que, ao ouvirmos a música, observemos que o racismo, não é apenas racial, e sim, estrutural, e que, portanto, diferentemente do que pensamos, é algo que nos atinge a todos. 

O racismo, mais do que o preconceito e a discriminação que permeiam as relações entre homens e mulheres, é algo que está inscrito na estrutura da sociedade brasileira. É o que vemos nesse trecho da música: “Só pra mostrar aos outros quase pretos (E são quase todos pretos) /E aos quase brancos pobres, como é que pretos, pobres e mulatos /E quase brancos, quase pretos, de tão pobres são tratados...”

Esse pequeno recorte demonstra como os compositores evidenciaram, de forma brilhante, que o racismo não atinge apenas os negros a que se dirige, mas a todos, inclusive os brancos pobres tratados como negros. Ou seja, o racismo racial aprofunda e agrava o racismo social dos pobres no Brasil.

A música também situa a narrativa num cenário bastante interessante: o pelourinho:E não importa se os olhos do mundo inteiro possam estar por um momento... voltados para o largo, onde os escravos eram castigados”. Ora, o pelourinho, em Salvador, capital da Bahia, é um dos mais importantes monumentos que fazem memória da escravidão, e é palco de diversas manifestações e símbolos culturais, alguns citados na música, como os prédios e museus: “Casa de Jorge Amado”; referências musicais: “festa do pelô, dia de parada, disco de Paul Simon” (compositor negro norte-americano)

O racismo estrutural da sociedade, e sua conveniente indiferença, também é denunciado num trecho que cita a Chacina do Carandiru: “E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo diante da chacina: 111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos ou quase pretos, ou quase brancos, quase pretos de tão pobres...”

O Carandiru era um presídio masculino situado na zona norte da capital que abrigava milhares de pessoas, e era uma vergonha nacional. As condições sanitárias e de vida eram insalubres. E as inúmeras denuncias feitas por lideranças populares, por movimentos de base, por grupos de direitos humanos obrigaram o Estado, após a chacina, a desativar o presídio e demoli-lo. Hoje, naquele lugar assombroso existe um belíssimo espaço de lazer da população paulistana, o Parque da Juventude. Mas, afinal, o que tem o Haiti a ver com essa História?


RACISMO ESTRUTURAL


Enfim, o racismo foi o produto mais acabado da escravidão que perdurou por, pelo menos, 350 (trezentos e cinquenta) anos no Brasil. A escravidão deixou suas marcas, e a abolição parcial e insuficiente consentida pelas elites aprofundou essa realidade durante o período republicano. è por isso que a historiadora Lilia Moritz diz que "o racismo é filho da abolição.".

O racismo é estrutural, está inscrito na estrutura da sociedade. Isso significa que o racismo não é um desvio, uma patologia, e nem é algo conjuntural (passageiro) como muitas vezes se acredita. O racismo é normalizado como uma racionalidade invisível que organiza a vida das pessoas em todas as dimensões: sociais, políticas e econômicas.


RACISMO ESTRUTURAL - ALMA PRETA 

O HAITI

O Haiti é um pequeno país situado na Ilha de santo Domingo, e é um dos países mais pobres da América. Sua população é composta majoritariamente por negros e negras (quase 100% da população da ilha) É praticamente uma ilha africana em solo americano!

Ora, se levarmos em consideração que o Brasil é o segundo maior país de população negra do mundo (só perde para a Nigéria, na África), estamos aí diante de um incrível paralelo, o que justifica a ideia de que “O Haiti é aqui, o Haiti não é aqui”.

Enfim, são dois povos marcados pelo signo da escravidão. O Haiti, a exemplo do Brasil, foi colonizado por potências estrangeiras (Espanha, França...) e ocupado por negros, trazidos da África, e escravizados no continente. Vamos conhecer um pouco melhor essa história:

 

"O território do atual Haiti foi ocupado inicialmente pelos espanhóis, que em 1503 introduziram escravos negros para substituir a população indígena que tinha sido dizimada. Em 1522 aconteceu o primeiro levante dos escravos. Em seguida Haiti foi conquistada pelos piratas franceses. Em 1665 os colonos franceses estabeleceram-se na ilha onde havia um contingente de “zambos”, filhos de negros com os índios. Deram início a pequenas propriedades que receberam um golpe mortal com a introdução da indústria açucareira – com o cultivo da cana-de-açúcar aumentou a importação de escravos negros. Em 1685 a sociedade colonial haitiana ficou dividida em três classes: os brancos, os libertos – mestiços e negros – e os escravos. Em 1789 havia 40 mil brancos, 57 mil libertos e 452 mil escravos negros. Os colonos eram os patrões absolutos dos escravos, porém deviam cuidar de seu sustento. Por isso concediam-lhes um pedaço de terra chamado jardim que devia ser cultivado nos momentos livres. Antes da independência, muitos escravos fugiram para as montanhas. De vez em quando desciam para a planície a fim de saquear e queimar as plantações, vingando-se da crueldade dos patrões e incentivando os irmãos à revolta. A repressão da polícia, composta sobretudo de mestiços, era brutal. Foi no Haiti que eclodiu a mais séria revolta negra de toda a história do Caribe, em 1795. O medo se espalhou por todo o Caribe, composto de ilhas habitadas por negros escravos. Mesmo no Brasil se falava do perigo haitiano. No início do século dezenove o Haiti formou a primeira república negra do mundo, mas nem por isso os destinos da ilha favoreciam a libertação, sendo que hoje o Haiti é um dos países mais pobres e dominados do mundo". (A história dos Africanos na América Latina, Cehila-popular, Vozes, Petrópolis-RJ, 1998)

 

A PRIMEIRA REPÚBLICA NEGRA DO MUNDO

Mas há um outro aspecto que aproxima o Haiti da experiencia histórica do Brasil: a LUTA PELA LIBERDADE. É verdade, a história dos negros no Brasil na época colonial não é uma história de conformismo e submissão. Muito pelo contrário!

O Brasil foi o palco de centenas de Quilombos (Jabaquara, Kalunga, Palmares, etc), de Revoltas Populares (como a Revolta dos Malês de 1835, Revolta da Chibata do início do século XX, etc.), de Greves (nas fazendas, engenhos e fábricas) e insurreições (Balaiada, Sabinada, etc.)

O Haiti também... como a Revolta de 1795, que obrigou os fazendeiros a decretar a abolição da escravatura; e a independência em 1808, produto de uma revolução popular que lembra a fase mais radical da Revolução Francesa (a propósito, muitos líderes revolucionários foram influenciados por essa revolução já que o Haiti, nessa época, era uma colônia francesa)

O Haiti foi a Primeira República Livre e Negra da História fora da África e estimulou muitos movimentos coloniais a seguirem seu exemplo nas Américas. Os haitianos representavam u oásis de homens negros livres num deserto imenso de povos africanos escravizados nas Américas. Não é por acaso que os governantes europeus e as elites coloniais tinham verdadeiro pavor da experiencia haitiana. Afinal, “se a moda pega” não ia sobrar escravo para trabalhar nas fazendas e engenhos dos ricos proprietários rurais das colônias americanas.

O Brasil, diferentemente do Haiti, teve uma independência bastante tímida. Tanto é, que após a independência, o governo brasileiro continuou nas mãos do herdeiro da casa de Orleans e Bragança (a dinastia da antiga monarquia portuguesa). Além disso, a independência do país não foi acompanhada da liberdade da população já que a maioria dos habitantes do Brasil continuava escrava (a abolição no Brasil só viria, depois de uma longa luta dos abolicionistas, em 1888)


O PERIGO MORA AO LADO

Para ilustrar o significado do Haiti naquele contexto, vejamos um interessante documento histórico da época recolhido pelo professor Luiz Mott (UFBA). Esse documento demonstra, por um lado, que os negros nunca aceitaram, e lutaram bravamente contra escravidão, durante toda a época colonial e o império; por outro, que os relatos sobre as mudanças ocorridas no Haiti eram o “pavor das elites brasileiras.

Entre os anos de 1823 ou 1824, um espião anônimo de origem francesa, a serviço de D. João VI, escreveu uma carta ao monarca informando a respeito da situação política do Brasil, após a separação de Portugal. Observem no documento como o Haiti representante um perigo para as elites do novo Reino "Livre" (a independência foi um ano antes) do Brasil:

“Devem ser demonstrados aos brancos as desgraças a que estão sujeitos quando não fazem nada para impedir a perseguição e os massacres que os portugueses estão sofrendo. No Brasil, aparentemente há dois partidos (dos brasileiros e dos portugueses), mas, na verdade, há também um terceiro: o partido dos negros e das pessoas de cor, que é o mais perigoso porque é o mais forte, numericamente falando. Tal partido vê com prazer e com esperanças criminosas as lutas existentes entre os brancos, lutas que fazem os brancos diminuir dia a dia. Todos os brasileiros, principalmente os brancos, não percebem que é hora de parar com os debates políticos, com as discussões constitucionais? Se continuarem a falar dos direitos dos homens, de igualdade, acabarão falando a palavra fatal: liberdade. Palavra terrível, que tem mais força num país de escravos do que em qualquer parte. Então, toda a independência acabará no Brasil com a revolta dos escravos, que, quebrando suas algemas, incendiarão as cidades, os campos e as plantações, massacrando os brancos e fazendo deste magnífico império do Brasil uma deplorável cópia da brilhante colônia de São Domingos (Haiti). Coisa alguma é exagerada no que acabo de expor. Tudo, infelizmente, é muito verdadeiro...”


FORMULÁRIO DE QUESTÕES

Ao terminar sua leitura e análise do filme, clique no formulário (abaixo) e responda às questões propostas. Lembre-se que o formulário será encaminhado, uma única vez, diretamente para o professor assim que você clicar em “enviar”.

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