O HAITI É AQUI? O HAITI NÃO É AQUI?
AS LUTAS PELA LIBERDADE NA AMÉRICA E BRASIL
OLÁ GALERA, Observe essas 2 (duas) imagens:
2) A 2ª é de
Brumadinho, cidade mineira afetada pela pior tragédia ambiental da história, 5
(cinco) anos depois quando a barragem do fundão, em Mariana rompeu em 05 de
novembro.
O que há de comum
nessas 2 (duas) tragédias distantes no tempo e no espaço?
O que podemos
dizer é que em Brumadinho (MG), assim como em Porto Príncipe (Haiti), o povo
negro sofre as consequências de uma tragédia que poderia ter sido evitada “se
a ganância do capital não ocupasse o território de forma predatória”; e o
Estado, não cruzasse os braços diante da irresponsabilidade dos donos das
empresas e das mineradoras. Mas, há mais coisas em comum na história desses
dois países.
Em 1993, Caetano Veloso e Gilberto Gil lançaram “Haiti”, uma profética canção-manifesto sobre a realidade vivida pelos negros no Brasil. A música tinha um refrão curioso que dizia: "Reze pelo Haiti, Pense no Haiti". Ora, por que chamar a atenção para o Haiti no refrão, se no restante da letra não se fazia qualquer menção a esse país? Qual era a intenção dos compositores? Observe o que diz a letra da música HAITI:
HAITI (CAETANO/GIL – 1993)
Quando
você for convidado pra subir no adro da fundação casa de Jorge Amado
Pra
ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando
porrada na nuca de malandros pretos,
De
ladrões mulatos, e outros quase brancos, tratados como pretos...
Só
pra mostrar aos outros quase pretos (E são quase todos pretos)
E
aos quase brancos pobres, como é que pretos, pobres e mulatos
E
quase brancos, quase pretos, de tão pobres são tratados...
E
não importa se os olhos do mundo inteiro possam estar por um momento
Voltados
para o largo, onde os escravos eram castigados
E
hoje, um batuque com a pureza de meninos uniformizados,
De
escola secundária em dia de parada...
E
a grandeza épica de um povo em formação nos atrai,
Nos
deslumbra e estimula
Não
importa nada:
Nem
o traço do sobrado, nem a lente do fantástico,
Nem
o disco de Paul Simon...
Ninguém,
ninguém é cidadão!
Se
você for a festa do pelô
E
se você não for...
PENSE NO HAITI,
REZE
PELO HAITI...
O
HAITI É AQUI!
O
HAITI NÃO É AQUI!
E
na TV se você vir um deputado em pânico mal dissimulado
Diante
de qualquer, mas qualquer mesmo, qualquer Plano de educação
Que
pareça fácil, que pareça fácil e rápido
E
vá representar uma ameaça de democratização do ensino do primeiro grau...
E
se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital
E
o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto
E
nenhum no marginal...
E
se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual,
Notar
um homem mijando na esquina da rua
Sobre
um saco brilhante de lixo do Leblon
E
quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo diante da chacina:
111
presos indefesos, mas presos são quase todos pretos ou quase pretos,
ou
quase brancos, quase pretos de tão pobres...
E
pobres são como podres, e todos sabem como se tratam os pretos...
E
quando você for dar uma volta no Caribe
E
quando for trepar sem camisinha,
E
apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba...
PENSE NO HAITI,
REZE
PELO HAITI...
O
HAITI É AQUI!
O
HAITI NÃO É AQUI!
O HAITI É AQUI?
Assista a declamação feita do Poema: "O Haiti não é aqui?" (Letra da composição) feita pelo ator Guilherme Weber e o clipe original da música "Haiti" dos compositores baianos produzida para o Programa Fantástico durante o lançamento do álbum:
O HAITI NÃO É AQUI? - GUILHERME WEBER
HAITI - GILBERTO GIL E CAETANO VELOSO
O
RACISMO
O clipe da música Haiti inicia-se com os dois cantores, Gilberto Gil e Caetano Veloso (um negro, outro baiano), olhando para "o fundo de um poço" onde as águas espelham o seu próprio retrato. É uma provocação para que, ao ouvirmos a música, observemos que o racismo, não é apenas racial, e sim, estrutural, e que, portanto, diferentemente do que pensamos, é algo que nos atinge a todos.
O racismo,
mais do que o preconceito e a discriminação que permeiam as relações entre
homens e mulheres, é algo que está inscrito na estrutura da sociedade
brasileira. É o que vemos nesse trecho da música: “Só pra mostrar aos outros
quase pretos (E são quase todos pretos) /E aos quase brancos pobres, como é que
pretos, pobres e mulatos /E quase brancos, quase pretos, de tão pobres são
tratados...”
Esse pequeno recorte demonstra como os compositores evidenciaram, de forma brilhante, que o racismo não atinge apenas os negros a que se dirige, mas a todos, inclusive os brancos pobres tratados como negros. Ou seja, o racismo racial aprofunda e agrava o racismo social dos pobres no Brasil.
A
música também situa a narrativa num cenário bastante interessante: o
pelourinho: “E não importa se os olhos do mundo inteiro possam estar por
um momento... voltados para o largo, onde os escravos eram castigados”. Ora,
o pelourinho, em Salvador, capital da Bahia, é um dos mais importantes
monumentos que fazem memória da escravidão, e é palco de diversas manifestações
e símbolos culturais, alguns citados na música, como os prédios e museus: “Casa
de Jorge Amado”; referências musicais: “festa do pelô, dia de parada,
disco de Paul Simon” (compositor negro norte-americano)
O
racismo estrutural da sociedade, e sua conveniente indiferença, também é
denunciado num trecho que cita a Chacina do Carandiru: “E quando ouvir o
silêncio sorridente de São Paulo diante da chacina: 111 presos indefesos, mas
presos são quase todos pretos ou quase pretos, ou quase brancos, quase pretos
de tão pobres...”
O
Carandiru era um presídio masculino situado na zona norte da capital que
abrigava milhares de pessoas, e era uma vergonha nacional. As condições sanitárias
e de vida eram insalubres. E as inúmeras denuncias feitas por lideranças
populares, por movimentos de base, por grupos de direitos humanos obrigaram o Estado,
após a chacina, a desativar o presídio e demoli-lo. Hoje, naquele lugar assombroso
existe um belíssimo espaço de lazer da população paulistana, o Parque da
Juventude. Mas, afinal, o que tem o Haiti a ver com essa História?
RACISMO ESTRUTURAL
RACISMO ESTRUTURAL - ALMA PRETA
O
HAITI
O
Haiti é um pequeno país situado na Ilha de santo Domingo, e é um dos países
mais pobres da América. Sua população é composta majoritariamente por negros e
negras (quase 100% da população da ilha) É praticamente uma ilha africana em
solo americano!
Ora,
se levarmos em consideração que o Brasil é o segundo maior país de população
negra do mundo (só perde para a Nigéria, na África), estamos aí diante de um incrível
paralelo, o que justifica a ideia de que “O Haiti é aqui, o Haiti não é aqui”.
Enfim,
são dois povos marcados pelo signo da escravidão. O Haiti, a exemplo do Brasil,
foi colonizado por potências estrangeiras (Espanha, França...) e ocupado por
negros, trazidos da África, e escravizados no continente. Vamos conhecer um
pouco melhor essa história:
"O território do atual Haiti foi ocupado
inicialmente pelos espanhóis, que em 1503 introduziram escravos negros para
substituir a população indígena que tinha sido dizimada. Em 1522 aconteceu o
primeiro levante dos escravos. Em seguida Haiti foi conquistada pelos piratas
franceses. Em 1665 os colonos franceses estabeleceram-se na ilha onde havia um
contingente de “zambos”, filhos de negros com os índios. Deram início a
pequenas propriedades que receberam um golpe mortal com a introdução da
indústria açucareira – com o cultivo da cana-de-açúcar aumentou a importação de
escravos negros. Em 1685 a sociedade colonial haitiana ficou dividida em três
classes: os brancos, os libertos – mestiços e negros – e os escravos. Em 1789
havia 40 mil brancos, 57 mil libertos e 452 mil escravos negros. Os colonos
eram os patrões absolutos dos escravos, porém deviam cuidar de seu sustento.
Por isso concediam-lhes um pedaço de terra chamado jardim que devia ser
cultivado nos momentos livres. Antes da independência, muitos escravos fugiram
para as montanhas. De vez em quando desciam para a planície a fim de saquear e
queimar as plantações, vingando-se da crueldade dos patrões e incentivando os
irmãos à revolta. A repressão da polícia, composta sobretudo de mestiços, era
brutal. Foi no Haiti que eclodiu a mais séria revolta negra de toda a história
do Caribe, em 1795. O medo se espalhou por todo o Caribe, composto de ilhas
habitadas por negros escravos. Mesmo no Brasil se falava do perigo haitiano. No
início do século dezenove o Haiti formou a primeira república negra do mundo,
mas nem por isso os destinos da ilha favoreciam a libertação, sendo que hoje o
Haiti é um dos países mais pobres e dominados do mundo". (A história
dos Africanos na América Latina, Cehila-popular, Vozes, Petrópolis-RJ, 1998)
A PRIMEIRA REPÚBLICA NEGRA DO MUNDO
Mas há um outro aspecto que aproxima o Haiti da
experiencia histórica do Brasil: a LUTA PELA LIBERDADE. É verdade, a história
dos negros no Brasil na época colonial não é uma história de conformismo e
submissão. Muito pelo contrário!
O Brasil foi o palco de centenas de Quilombos
(Jabaquara, Kalunga, Palmares, etc), de Revoltas Populares (como a Revolta dos
Malês de 1835, Revolta da Chibata do início do século XX, etc.), de Greves (nas
fazendas, engenhos e fábricas) e insurreições (Balaiada, Sabinada, etc.)
O Haiti também... como a Revolta de 1795, que obrigou
os fazendeiros a decretar a abolição da escravatura; e a independência em 1808,
produto de uma revolução popular que lembra a fase mais radical da Revolução Francesa
(a propósito, muitos líderes revolucionários foram influenciados por essa
revolução já que o Haiti, nessa época, era uma colônia francesa)
O Haiti foi a Primeira República Livre e Negra da
História fora da África e estimulou muitos movimentos coloniais a seguirem seu
exemplo nas Américas. Os haitianos representavam u oásis de homens negros
livres num deserto imenso de povos africanos escravizados nas Américas. Não é
por acaso que os governantes europeus e as elites coloniais tinham verdadeiro pavor
da experiencia haitiana. Afinal, “se a moda pega” não ia sobrar escravo para
trabalhar nas fazendas e engenhos dos ricos proprietários rurais das colônias americanas.
O Brasil, diferentemente do Haiti, teve uma independência
bastante tímida. Tanto é, que após a independência, o governo brasileiro
continuou nas mãos do herdeiro da casa de Orleans e Bragança (a dinastia da
antiga monarquia portuguesa). Além disso, a independência do país não foi
acompanhada da liberdade da população já que a maioria dos habitantes do Brasil
continuava escrava (a abolição no Brasil só viria, depois de uma longa luta dos
abolicionistas, em 1888)
O PERIGO MORA AO LADO
Para ilustrar o significado do Haiti naquele contexto,
vejamos um interessante documento histórico da época recolhido pelo professor Luiz
Mott (UFBA). Esse documento demonstra, por um lado, que os negros nunca aceitaram,
e lutaram bravamente contra escravidão, durante toda a época colonial e o
império; por outro, que os relatos sobre as mudanças ocorridas no Haiti eram o “pavor
das elites brasileiras.
Entre os anos de 1823 ou 1824, um espião anônimo de
origem francesa, a serviço de D. João VI, escreveu uma carta ao monarca
informando a respeito da situação política do Brasil, após a separação de
Portugal. Observem no documento como o Haiti representante um perigo para as
elites do novo Reino "Livre" (a independência foi um ano antes) do
Brasil:
“Devem ser demonstrados aos brancos as desgraças a
que estão sujeitos quando não fazem nada para impedir a perseguição e os
massacres que os portugueses estão sofrendo. No Brasil, aparentemente há dois
partidos (dos brasileiros e dos portugueses), mas, na verdade, há também um
terceiro: o partido dos negros e das pessoas de cor, que é o mais perigoso
porque é o mais forte, numericamente falando. Tal partido vê com prazer e com
esperanças criminosas as lutas existentes entre os brancos, lutas que fazem os
brancos diminuir dia a dia. Todos os brasileiros, principalmente os brancos,
não percebem que é hora de parar com os debates políticos, com as discussões
constitucionais? Se continuarem a falar dos direitos dos homens, de igualdade,
acabarão falando a palavra fatal: liberdade. Palavra terrível, que tem mais
força num país de escravos do que em qualquer parte. Então, toda a
independência acabará no Brasil com a revolta dos escravos, que, quebrando suas
algemas, incendiarão as cidades, os campos e as plantações, massacrando os
brancos e fazendo deste magnífico império do Brasil uma deplorável cópia da
brilhante colônia de São Domingos (Haiti). Coisa alguma é exagerada no que
acabo de expor. Tudo, infelizmente, é muito verdadeiro...”
FORMULÁRIO DE QUESTÕES
Ao terminar sua leitura e análise do filme, clique no formulário (abaixo) e responda às questões propostas. Lembre-se que o formulário será encaminhado, uma única vez, diretamente para o professor assim que você clicar em “enviar”.
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