"Quem construiu a Tebas de sete portas?
Nos livros estão nomes de reis.
Arrastaram eles os blocos de pedras?
E a Babilônia tantas vezes destruída? Quem a construiu tantas vezes?
Em que casas da Lima Dourada moravam os construtores?
Para onde foram os pedreiros na noite em que a muralha da China ficou pronta?
A grande Roma está cheia de arcos do triunfo.
Quem os ergueu? Sobre quem triunfaram os césares?
A decantada Bizâncio tinha somente palácios para seus habitantes?
Mesmo na lendária Atlântida, os que se afogavam gritavam por seus escravos na noite em que o mar tragou.
O jovem Alexandre conquistou a Índia. Sozinho?
César bateu os gauleses. Não levara sequer um cozinheiro?
Filipe da Espanha chorou quando sua armada naufragou. Ninguém mais chorou?
Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos. Quem venceu além dele?
Cada página uma vitória. Quem cozinhava o banquete?
A cada dez anos um grande homem. Quem pagava a conta?
Tantas histórias. Tantas questões."
(Bertolt Brecht, Perguntas de um trabalhador que lê)
BRASIL: UMA HISTÓRIA FEITA POR ÍNDIOS, NEGROS, JOVENS E MULHERES
A animação brasileira “Uma História de Amor e de Fúria” é uma dessas obras que colocam esses personagens no centro da História. O filme trata dos muitos personagens nacionais e lutas que foram apagados da História do Brasil. Exagero??? Então, vejamos:
A abolição da escravatura é contada como se fosse uma grande concessão da Princesa Isabel e da elite da época; e não produto das lutas populares e quilombolas ou das disputas travadas pelos abolicionistas negros. Duque de Caxias, mencionado no filme, raramente é retratado como o genocida que reprimiu a Balaiada no maranhão com violência extrema.
Uma história de amor e de luta traz à tona, outros protagonistas de nossa história: índios, negros, jovens e mulheres. Essa abordagem nos coloca diante de uma outra concepção historiográfica, a chamada nova história.
A nova história, produto da nova escola francesa e da história social inglesa, rompe com a visão cíclica da História e supera a perspectiva marxista. Essa concepção traz novos personagens históricos à cena: os trabalhadores, as mulheres, as crianças, os esquecidos da história.
UMA HISTÓRIA DE AMOR E FÚRIA – RESENHA CRÍTICA
A primeira parte da narrativa de "Uma História de Amor e de Fúria" coloca o índio, em primeiro plano, ao mostrar um período da História da colonização do Brasil. Na pele de Abeguar, um índio tupinambá, o personagem se depara com as dificuldades enfrentadas pelos franceses na região em oposição ao poder de Portugal. O filme retrata a confederação dos tamoios e destaca a violência e o genocídio que os índios sofreram nesse conflito.
A segunda parte explora a pobreza e a escravidão durante o período regencial, ainda no império brasileiro. Manuel do Balaio, homem livre negro pobre, líder da revolta que ficou conhecida como Balaiada, lutou ao lado de Cosme, um líder quilombola, em 1825, no Maranhão, contra os altos impostos e a situação precária imposta á maioria da população. O retrato mostra o massacre que a população envolvida no movimento enfrentou contra as forças do governo brasileiro, sob comando de Luís Alves de Lima e Silva, mais tarde conhecido como Duque de Caxias e celebrado como patrono do exército.
Já em 1970, a ideia foi mostrar o personagem durante a ditadura militar. Ao lado de Janaína, lutando contra o regime, ele é apresentado um jovem que é preso e torturado pelas forças do regime.
Por fim, o filme apresenta uma intensa disputa pela água em um futuro distópico não muito distante. Nesse último quadro destaca-se a presença e liderança de uma mulher, Janaína. Eis o futuro com o qual não sonhamos. Afinal, um povo que não conhece o seu passado acaba andando no escuro em direção a um futuro que não escolheu para sua vida.
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