ATIVIDADE 15: MAUÁ - O REINADO CONTRA A INDÚSTRIA NO BRASIL

OLÁ GALERA,

Com a independência do Brasil inicia-se um novo período da História que ficou conhecido como Império. Essa fase da História pode ser dividida em 2 9dois) grandes períodos e um interstício entre eles. O 1º Reinado – de 1822 à 1831 – sob comando de D. Pedro I; o Período Regencial – entre 1831 e 1840. E o 2º Reinado – de 1840 à 1889 – sob comando de D. Pedro II.

Nessas 2 (duas) atividades: atividade 15 e atividade 16, pretendemos propor uma reflexão sobre o período em questão sob o ponto de vista do regime político, da economia agroexportadora em contexto de transição para uma industrialização incipiente e da sociedade escravocrata. 

A ideia é recuperar o debate historiográfico discutindo a biografia de um personagem que é, por si só, um contraditório contraponto ao projeto das elites agroexportadoras: O Barão de Mauá - um personagem da História que parecia estar à frente de seu tempo e que conviveu com uma contradição durante a toda a sua vida: ser um empresário capitalista numa sociedade controlada pelas elites rurais agroexportadoras e escravocratas.

Compreender o conflito entre esses 2 (dois) modelos de sociedade: capitalista industrial x agrícola colonial é o nosso objetivo primordial e um excelente ponto de partida para a reflexão da transição da monarquia à República.


MÉTODO DE PESQUISA

Para compreender o tema dessa atividade (Atividade 15) e da seguinte (Atividade 16), propomos o seguinte encaminhamento metodológico:

1.     Leia o artigo: “Mauá – um homem à frente de seu tempo” que escrevemos para introduzir o filme “Mauá – o Imperador e o Rei” no contexto dessa pesquisa (não deixe de acessar e assistir o pequeno trecho do vídeo sugerido no texto); 

2.  Assista a versão didática do filme “Mauá – o Imperador e o Rei” (Sérgio Resende, 1999). Trata-se de uma versão resumida do longa-metragem – é uma opção melhor do que ver o filme inteiro de mais de 2 (duas) horas de duração;

3.     Leia o comentário crítico da 1ª parte do documentário “Mauá, o primeiro gigante.” do canal History Channel proposto e assista o episódio.


MAUÁ – UM HOMEM À FRENTE DE SEU TEMPO

MUDAR - PARA QUE FIQUE COMO ESTÁ!

Como vimos na atividade passada, a Independência do Brasil é um tema que precisa ser revisitado pela História. Afinal, não foi pacífica, foi construída por homens, mas principalmente por mulheres incríveis e, custou o "olho da cara". 

Além disso, toda essa liberdade proclamada não se estendeu à imensa maioria dos brasileiros: os negros. Basta dar uma rápida olhada nas aquarelas dos artistas estrangeiros para constatar o óbvio: Esse novo país livre continua sendo uma nação de escravos.   

Essa liberdade também não significava uma ruptura com a monarquia, nem a opção por uma República. Diferentemente do que aconteceu nas ex-colônias do norte ou do centro-sul do continente, a emancipação do Brasil não implantou uma República. Pelo contrário, o Reino do Brasil era governado por um herdeiro da Casa de Bragança, a mesma dinastia que governara o Brasil antes da Independência.

Mas, a mais cruel das permanências que se seguiram à independência foi a economia escravista-agroexportadora, sustentada ideologicamente pela tese da vocação agrícola do país. O projeto de manutenção da “vocação agrícola” a qualquer custo pelas oligarquias rurais boicotava qualquer iniciativa contrária ao modelo. 

MAUÁ – NA CONTRAMÃO DA HISTÓRIA

E foi esse país, escravocrata, agrário, agroexportador, controlado por oligarquias de proprietários de terra que entrou em choque com Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, um personagem que merece uma investigação apurada por 2 (duas) razões: 1) Em primeiro lugar, pela importância histórica de investigar as possibilidades da indústria, pelo menos 100 anos antes de seu advento no Brasil; 2) Em segundo lugar, por que Mauá traz à tona a contradição existente entre esses 2 (dois) projetos em disputa no coração do império: o agroexportador e o capitalista-industrial.

1850 – O ANO QUE NÃO TERMINOU...

Em meados do século XIX, enquanto os países capitalistas desenvolvidos viviam o contexto da Segunda Revolução Industrial, o Brasil parecia caminhar na contramão da História. Apesar disso, o café, base de nossa economia, ao mesmo tempo em que preservava aspectos do passado colonial (latifúndio, monocultura e escravismo), tornava a economia mais dinâmica, estimulando a construção de ferrovias e portos, além de criar condições favoráveis para o crescimento de outros empreendimentos como bancos, atividades ligadas ao comércio interno e uma série de iniciativas empresariais. 

Em 1850, duas novas leis estavam em andamento: A Tarifa Alves Branco (1844), que majorou as taxas alfandegárias; e a Lei Eusébio de Queirós (1850), que aboliu o tráfico negreiro liberando capitais para outras atividades. Isso provocou um surto de desenvolvimento industrial no Brasil.

MAUÁ – UM EMPRESÁRIO

É nesse contexto que surge a figura de Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, principal representante do incipiente empresariado brasileiro, que atuou nos mais diversos setores da economia urbana.

Nos anos 40, um ano após uma viagem à Inglaterra, o país mais industrializado do mundo, Mauá adquire o estaleiro “Ponta de Areia” no litoral do Rio de Janeiro e investe na produção de tubos para encanamentos d’água, caldeiras para máquinas a vapor, guindastes, prensas, engenhos de açúcar e construção naval. Com isso, em apenas um ano de funcionamento, "Ponta de Areia" já contava com cerca de mil operários.

No setor dos serviços públicos, Mauá inaugurou, em 1854, a primeira estrada de ferro brasileira. Com seus vagões puxados pela locomotiva Baronesa, fazia um trajeto de 18 Km, entre a serra de Petrópolis e o Rio de Janeiro. 

Com a participação de capitalistas ingleses, o barão idealizou e iniciou a construção de outras ferrovias, como a de Recife, a chamada Central do Brasil, e principalmente, a construção da Santos-Jundiaí. Ainda na área de transportes, Mauá organizou as companhias de navegação a vapor no Amazonas e no Rio Grande do Sul.

Seu pioneirismo também esteve presente na fundação da companhia de gás para iluminação das ruas do Rio de Janeiro; e no setor de comunicação, com a construção da obra que instalou o cabo telegráfico submarino entre o Brasil e a Europa.

O CONFLITO ENTRE DOIS PROJETOS DE NAÇÃO

Essas iniciativas modernizadoras encontravam seu revés na manutenção da estrutura colonial agroexportadora-escravista e na concorrência com empreendimentos estrangeiros, principalmente britânicos. 

Não resta dúvida que a manutenção de características coloniais, com base no latifúndio monocultor escravista, representava um sério obstáculo ao progresso urbano-industrial. Mas o crescimento do processo abolicionista, o fortalecimento de um nova oligarquia não-escravista no oeste paulista - interessada na obtenção de mão-de-obra europeia e oriental (imigração de massa) e o surgimento de uma burguesia capitalista-industrial deram fôlego à chamada Era Mauá

UMA FAÍSCA PARA A REPÚBLICA

É nesse contexto que o antagonismo do novo (urbano-industrial e abolicionista) com o arcaico (agroexportador e escravista), associado a outras questões estruturais, como as restrições que a igreja e o exército passam a fazer ao centralismo monárquico, impulsionaram a substituição da monarquia para república (que se dará através de um golpe de Estado em dia 15 de novembro de 1889).

É interessante observar que, contraditoriamente, a abolição da escravidão sem indenização para os proprietários de escravos promoveu o apoio de boa parte da oligarquia rural ao movimento republicano para garantir seus privilégios de classe. (Celso Aparecido de Cerqueira Barreiro, Historiador)


MAUÁ, O PRIMEIRO GIGANTE

TENSÕES

O documentário mostra que, em 1850, o Brasil era pressionado pela Inglaterra para abolir o Tráfico Negreiro. É um momento em que o capitalismo industrial está em expansão no mundo e se defronta com o sistema escravista que é um obstáculo ao seu desenvolvimento. É um período marcado por uma tensão entre uma burguesia nascente, aliada desse projeto representado pelo império britânico e uma oligarquia arraigada em seus bens, valores e patrimônios.

A INGLATERRA E A PRESSÃO PELO FIM DO TRÁFICO NEGREIRO

D. Pedro II se vê diante de um dilema: se põe fim ao tráfico, terá problemas com as oligarquias escravocratas; se, pelo contrário, não o faz... terá de enfrentar o poderoso Império britânico – economicamente- no concerto internacional das nações – e militarmente – com a poderosa frota armada inglesa atracada no litoral brasileiro.

Com a aprovação da Tarifa Alves Branco (1844), Mauá vê uma grande oportunidade e investe na construção de uma siderúrgica em Ponta de Areia. Com a sanção da Lei Eusébio de Queiroz (1850) - que determinou o fim do tráfico negreiro, surge uma nova oportunidade porque uma quantidade imensa de capitais antes utilizados no tráfico é colocada no mercado.

MAUÁ – BRASILEIRO OU INGLÊS?

É um período marcado pela contradição de 2 (dois) mundos muito diferentes: Mauá é forjado numa cultura marcada pelo liberalismo econômico. Ele tem uma formação marcada pelo trabalho e pela língua e cultura inglesa. Mauá viaja para a Inglaterra, centro cosmopolita europeu, e conhece as máquinas que movimentam as fábricas da Revolução Industrial que está em curso.

Por outro lado, existia uma sociedade de corte. Mauá distoa dessa realidade, porque ele é o representante de um novo tipo de economia, o capitalismo industrial, que surge em meio a uma sociedade agrária-escravista. A sociedade brasileira estava mergulhada até o pescoço na escravidão. O tráfico de escravos produzia um lucro fabuloso, o habitus, a cultura da sociedade era construída sob uma base escravista. A relação de D. Pedro II com a escravidão é mediada pelos interesses das oligarquias rurais.

A GUERRA DO PRATA

O programa mostra, ainda, a questão do Prata. O controle do Rio da Prata era estratégico por que se o Uruguai se unisse à Argentina, o crescimento da rival colocaria em risco os negócios do Estado brasileiro. É nesse contexto que Mauá financia a guerra desiquilibrando a balança em favor do Uruguai.

A guerra é, para Mauá, uma oportunidade. Por um lado, amplia os vínculos do empresário com o Estado, fundamental para as concessões de obras públicas, de empréstimos, privilégios, negociação de juros, facilitação na abertura de novos negócios.

A CRIAÇÃO DO BANCO DO BRASIL

Em 1851, Mauá cria o Banco do Brasil. A criação do Banco do Brasil, um banco que nasce privado sob comando de Mauá, atende uma necessidade urgente: remanejar e investir os capitais antes destinados ao tráfico de escravizados. O objetivo era alavancar a atividade comercial gerando outros negócios pela concessão de créditos. Mas, qual é o problema desse processo? É muito poder nas mãos de uma pessoa, de um único homem. D. Pedro II se vê ameaçado pelo poder que é fruto da riqueza de Mauá. 

MAUÁ - O 1º GIGANTE - P.1 



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