ATIVIDADE 8: AS FAKE NEWS E A ERA DO CAPITALISMO DE VIGILÂNCIA

 

FAKE NEWS: PRODUTO HISTÓRICO DAS TECNOLOGIAS E REDES SOCIAIS

INTRODUÇÃO

A História é uma ferramenta de interpretação da realidade social. Ou seja, com um método científico em mãos, o historiador investiga o contexto em que vive observando e analisando diferentes fontes, identificando e comparando as diferenças e semelhanças, permanências e transformações existentes ao longo do tempo e constrói uma síntese explicativa para a realidade.

As chamadas tecnologias e redes sociais, com seus produtos mais evidentes (as fakes news de que trataremos nesse documento), fazem, cada vez mais, parte de nosso cotidiano. Tanto que tendemos a acreditar que elas são produto de um “presente sem passado, despojado de ancestralidade”. Nada mais falso.

Nesse sentido, “Tecnologias, Redes Sociais, Fakes News, etc.” são, mais do que fatos do presente, persistências e permanências de um tempo que teima em se perpetuar, ainda que sob uma nova faceta e dinâmica social.

INDUSTRIALIZAÇÃO: A REVOLUÇÃO QUE NÃO ACABA...

Desde que o engenheiro mecânico e matemático escocês James Watt aperfeiçoou a máquina a vapor inaugurando “a era do vapor na Indústria”, a produção de bens e produtos e o processo de inovação tecnológica nunca mais encontrou fim: máquina à vapor, energia elétrica, produção em larga escala, disciplina e vida fabril, produtos, produtos e mais produtos invadiriam a vida social como nunca.

A tecnologia 5G, que disputa a hegemonia no mercado mundial de computadores e smartfones, simboliza como ninguém e nem nada havido antes, o impacto das tecnologias produzidas pela indústria 4.0, ou seja, a indústria na sua fase mais avançada em termos tecnológicos.

Num contexto como esse, de avanço extraordinário das tecnologias, em especial as tecnologias de informação e comunicação, as redes sociais assumem caráter inédito. Nunca se produziu, e se consumiu, tanta informação e “desinformação” como nesses tempos de uso sistemático, simultâneo (e até obsessivo) das redes sociais.

Produto desse processo são as chamadas “fakes news” que dominam as plataformas de divulgação de mensagens (Facebook, WhatsApp, Telegram, entre outras) O professor Leandro Karnal, historiador contemporânea da Unicamp, brinca com essa característica ao comentar que, em nossos dias qualquer adolescente de 14 anos com um celular na mão se julga capaz de contestar as teses de um filósofo da envergadura de Imanuel Kant por que assistiu um vídeo postado no Youtube... Para aprofundar essa discussão, proponho um estudo de caso: as fakes news. Ofereço para essa reflexão, o artigo de “A Era dos fakes news”. Confira:

ERA DAS FAKE NEWS: O BRASIL REAL E O BRASIL DO WHATSAPP

Deve existir na sua família alguém que você costumava admirar pela sobriedade e equilíbrio nas opiniões, mas que ultimamente se tornou adepto de teorias conspiracionistas. Essa mesma pessoa deve ter tentado te convencer que bastaria tomar um remédio para matar piolhos para se proteger da covid-19. Tem uma coisa que o seu e o meu familiar têm em comum: a utilização do WhatsApp como principal meio de informação. Por ser fácil, rápido e barato, o aplicativo de mensagens caiu no gosto do brasileiro. O WhatsApp está instalado em 99% dos celulares ativos no Brasil.

De acordo com o livro “A máquina do ódio”, ficamos atrás apenas da Índia em número de usuários. Das pessoas que você conhece, quantas não utilizam o WhatsApp? Provavelmente nenhuma. Não usar esse aplicativo de conversas virou quase um atestado de renúncia da vida social.

Como várias empresas oferecem planos e pacotes de internet que garantem uso ilimitado do WhatsApp, o aplicativo mudou a vida de muitos brasileiros que passaram a poder conversar com os amigos e fazer negócios pagando muito pouco por isso. Mas, como tudo na vida, tais benefícios vieram com um custo.

Qualquer um pode fabricar em poucos minutos informação falsa ou enviesada, sob a forma de texto, áudio ou vídeo, e compartilhar entre amigos no WhatsApp. Como é fácil retransmitir tudo aquilo que é recebido, em poucas horas (às vezes minutos) um vídeo difamatório, montagens ou mesmo um áudio apocalíptico que revela uma nova teoria da conspiração podem atingir milhões de celulares.

Por se tratar de uma plataforma mais difundida e com grande capilaridade em todos os segmentos da população, o WhatsApp funciona como um poderoso instrumento de confirmação de viés. Por exemplo, se alguém já predisposto à xenofobia passa a ser bombardeado por mensagens que dizem que o vírus da covid-19 foi fabricado em um laboratório chinês com a intenção de quebrar as outras economias ao redor do planeta, o mais provável é que essa mesma pessoa que se identificou com tal teoria conspiratória a repasse imediatamente.

Trabalhos científicos descobriram que as notícias repassadas por pessoas próximas tendem a ser lidas com mais credibilidade. Por isso é muito difícil reverter o efeito do ciclo de desinformação.

Em um país pobre, com enorme desigualdade de acesso à informação de qualidade, a difusão de notícias falsas pode ser um trunfo para qualquer candidato com um arsenal limitado de propostas e ideias, como ocorreu em 2018.

Ou seja, se o seu tio que passou a duvidar que a Terra é redonda provavelmente não é burro. A sua avó que defende com afinco a tese de que o Bill Gates quer implantar um chip para controlar toda a humanidade não é maluca. O seu irmão que não vai tomar a vacina do Butantan porque não quer ser contaminado pelo vírus do HIV não é suicida. Eles apenas estão presos em uma realidade paralela chamada WhatsApp. Nessa realidade paralela, dizer que a covid-19 já matou quase 270 mil brasileiros é quase um sacrilégio, coisa de comunista, socialista e antipatriota.

CASOS REAIS DE “FAKES NEWS” NA HISTÓRIA

O que são notícias? A maioria responderia que notícia é o que está publicado nos jornais e revistas ou é apresentado nos telejornais. A notícia, contudo, não é um fato acontecido, mas sim o relato sobre ele.

É um tipo de narrativa, a representação de um fato – e, como tal, pode conter verdade, meia verdade, distorção, ocultações, destaques e até mentiras. É um campo aberto à pesquisa histórica, em especial da história da comunicação.

Notícias falsas sempre existiram. Antes das tecnologias digitais, da circulação de jornais e até mesmo da alfabetização em massa, as notícias viajavam de boca em boca: disseminavam-se pelas ruas, mercados, cafés, tabernas, jardins públicos, salões privados na forma de mexericos e boatos e daí para versos, canções, cartas, pasquins chegando a panfletos, periódicos e livros. Os objetivos das notícias falsas eram (e ainda são) diversos. Servem para destruir a reputação de um poderoso, para influenciar uma eleição (como a escolha do papa), para fins comerciais (manchetes alarmistas ajudam a vender jornais), para promoção pessoal, para influenciar a opinião pública, para obter aliados ou cúmplices, para justificar uma guerra ou uma ação do governo. Veja abaixo alguns casos exemplares de fake news na história:

1.       Pietro Aretino (1492-1556), um escritor sem escrúpulos que trabalhava a quem melhor pagasse, colocou-se a serviço do cardeal Júlio de Médici durante o conclave de 1522 para a eleição do novo papa. Compôs sonetos sarcásticos sobre todos os candidatos, exceto sobre o favorito de seu patrono. Aretino colava-os no busto de pasquino, uma estátua antiga que ficava próximo da movimentada Piazza Navona. O nome da estátua batizou estes escritos de “pasquinadas”, o que deu origem ao termo “pasquim” para denominar o folheto ou jornal difamatório contra figuras públicas.

2.      O papa Alexandre VI (pontificado 1492-1503) e sua filha Lucrécia Borgia (1480-1519) foram alvos de uma campanha tão ardilosa feita por seus inimigos que os historiadores têm dificuldade em separar o que foi verdade, meia verdade ou mentira. Da mesma maneira o rei espanhol Felipe II (1556-1598) foi alvo de uma notícia falsa – que havia sido morto por um tiro – com a intenção de sabotar seu governo.

3.      Em 1780 um panfleto ganhou enorme popularidade: ele anunciava a captura de um monstro no Chile, levado à Espanha, que tinha a cabeça de uma Fúria (entidade infernal da mitologia grega), asas de morcego, corpo gigantesco coberto de escamas e rabo de dragão.

4.      No início do reinado de Luís XVI, a disseminação de calúnias, injúrias e difamação teve consequências desastrosas como a queda de ministérios e, certamente, contribuiu para o ódio patológico dos franceses contra Maria Antonieta, o que levou à sua execução em 16/10/1793.

5.      Em 25/08/1835, o jornal norte-americano New York Sun publicou a primeira de uma série de seis matérias anunciando a descoberta de vida na Lua. Segundo New York Sun, o astrônomo Herschel havia encontrado sinais de vida na Lua: animais fantásticos como unicórnios, castores peludos de duas pernas e, o mais incrível, humanoides alados que pareciam morcegos. Os fantásticos relatórios foram inventados por Richard Adams Locke, o editor do New York Sun.

6.      Na noite de 30/10/1938, a rádio norte-americana CBS deu um alarme apavorante: o país estava sendo invadido por marcianos. Orson Wells, o locutor desesperado, dizia que naves extraterrestres pousaram em Chicago e Saint Louis. A transmissão era acompanhada de sons horripilantes, pedidos de socorro, tosses convulsivas e gritaria de pessoas enlouquecidas que falavam de gases tóxicos.  A “notícia” atingiu, de imediato, cerca de um milhão de ouvinte da rádio e se disseminou como um rastilho de pólvora. O pânico tomou conta do país. Parte dos ouvintes, porém, perdeu a parte inicial do programa que anunciava o lançamento de uma novela radiofônica inspirada no livro “A Guerra dos Mundos”, de H.G. Wells, uma ficção científica em que a terra é invadida por marcianos. Até que o mal-entendido fosse desfeito, milhares de pessoas tentavam fugir de carro entupindo rodovias e implorando por máscaras de gás para a polícia.

CONCLUSÃO

Os sistemas de comunicação sempre moldaram os acontecimentos e a opinião pública. As tecnologias digitais, contudo, trouxeram uma outra ferramenta, ainda mais poderosa: levar a notícia diretamente ao indivíduo, por meio de sua rede de afetos (familiares, amigos e conhecidos) o que garante à notícia, uma aparência de verdade. “Se as pessoas que eu gosto estão compartilhando isso, deve ser verdadeiro, afinal por que mentiriam para mim?”

As informações obtidas nas redes sociais são valiosas para as agências de marketing e para os centros de inteligência. Os posts que alguém clica, comenta e/ou compartilha indicam as preferências do usuário: os temas ou conteúdos que o impressionam, aquilo que ele pensa e preza, aquilo que repudia – seus valores, enfim.  De posse dessas informações, pode-se levantar os perfis ideais para vender um shampoo ou para levar votos a um candidato. Mais ainda: essas informações podem ajudar a criar um falso líder que diz à população aquilo que ela quer ouvir.

As fakes news se valem de fotografias – a imagem goza de uma forte credibilidade por sua verossimilhança com o real. Porém, manipular e criar imagens é recurso conhecido desde a invenção da fotografia e facilmente identificável.

A novidade agora é criar ou manipular vídeos com conteúdo totalmente convincente que mostram eventos que nunca aconteceram – criados com tanta eficiência que até os especialistas terão dificuldade para provar que são falsos. Vídeos podem ter seu fundo trocado para mostrar outro cenário, podem ser dublados com vozes idênticas às originais e colocar em suas bocas frases ou palavras nunca ditas. Um vídeo falso pode mostrar um líder político defendendo o contrário do que defende, mostrar um lance de futebol que nunca aconteceu, ou destruir a voz de um cantor e acabar com sua reputação.

A única maneira de se defender das fake news é o conhecimento e a capacidade de análise e crítica. É checar informações e fontes. Confrontar notícias similares em sites nacionais e internacionais que tenham credibilidade. É perguntar: qual a intenção dessa notícia? Para quem é destinada? Que efeitos ela pode causar? A quem interessa divulgar?

 

FONTES E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

https://www.nexojornal.com.br/ensaio/2021/Era-das-fake-news-o-Brasil-real-e-o-Brasil-do-WhatsApp >acesso em 19/03/2021 às 16h00. 

https://ensinarhistoriajoelza.com.br/casos-reais-de-fake-news-na-historia/ - Blog: Ensinar História - Joelza Ester Domingues>acesso em 20/03 às 16h00.

FAKE NEWS: FORMULÁRIO DE QUESTÕES DE GEOGRAFIA

1.       Por quê “Tecnologias, Redes Sociais e Fakes News” podem ser objeto de investigação do historiador?

2.      Qual inovação tecnológica foi desenvolvida pelo engenheiro mecânico e matemático escocês James Watt? E por que essa inovação é tão importante para a história da humanidade?

3.      O que é a indústria 4.0?

4.      As fakes news” são um fenômeno moderno? Explique.

5.      Por que é tão fácil divulgar e generalizar notícias falsas no Brasil em nossa época?

6.      Por que, por outro lado, é tão difícil desmentir e evitar a repercussão das fakes news em nossos dias?

7.       Qual a diferença existente entre notícia e fato?

8.      Quais os objetivos das notícias falsas na História?

9.      Escolha uma das fake news divulgadas com intenções inescrupulosas no passado e faça uma crítica das razões de sua utilização.

10.   O que podemos fazer para não sermos vítimas inocentes das fake news?


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