Como podemos observar, o site do nerdologia nos propõe uma reflexão filosófica sobre o processo de construção e socialização das ideologias presentes no cotidiano. Mas, deixa uma pergunta no ar: E daí? Onde entra esse debate de “esquerda e direita” na história?
O professor Eduardo Wolf, da casa do saber responde a essa questão propondo um outro caminho de reflexão: a origem histórica dos conceitos de esquerda e direita.
Segundo o Professor Wolf, a Revolução Francesa é associada, tradicionalmente, ao surgimento desses dois conceitos, quando os dois principais grupos revolucionários, os jacobinos e os girondinos, sentavam-se, cada um, de um dos lados da Assembleia Nacional. Os jacobinos, ocupando posições à esquerda, defendiam posições mais radicais e de caráter popular, daí a associação feita entre as ideias defendidas por esses grupos e os interesses populares.
É obvio que isso já não diz respeito às políticas contemporâneas dos EUA, da Inglaterra, da França ou do Brasil. E, portanto, esquerda e direita, pouco tem a ver com os jacobinos, os girondinos, ou onde quer que alguém se sente em qualquer assembleia.
EDMUND BURKE X THOMAS PAINE
De fato, a contribuição fundamental para a consolidação desses conceitos se deu após a Revolução Francesa no debate entre Edmund Burke e Thomas Paine. Esse debate demarcou de forma central a diferença entre as concepções conservadoras, ou de direita e as progressistas, caracterizadas como de esquerda.
Edmund Burke, político irlandês, apoiador da Revolução Americana, vai se colocar contra a Revolução Francesa destacando os terríveis acontecimentos que poderiam advir de um processo daquela natureza. Burke tem medo de que a Revolução francesa descambasse para o terror, puro e simples. O que é curioso por que Burke está falando disso num momento que precede o chamado período de terror francês quando os jacobinos assumem o poder em 1793.
Thomas Paine, outro entusiasta da Revolução Americana, e que tinha, efetivamente, combatido ao lado dos americanos, olha para a França, com o mesmo entusiasmo revolucionário e acredita que aquele é o momento em que a história humana dá uma grande virada. Thomas Paine acreditava que era possível recomeçar tudo do zero, uma crença muito compartilhada por iluministas do século XVIII: a crença de que “a razão humana seria capaz de permitir que os homens reformulassem na sua vida social a partir de um planejamento teórico, ideológico e político”.
O ILUMINISMO E OS DOIS MODELOS DE PENSAMENTO POLÍTICO
Burke se oporá a essa tese e dirá que nós não temos razão ou capacidade humana suficiente que nos permita começar do zero a experiencia. Nós fazemos parte de uma experiência social muito maior, o contrato social que nós vivemos e que deve ser respeitado envolve tudo aquilo que já aconteceu, todos aqueles que já estiveram vivos e os que vivem agora e os que viverão depois de nós. E, portanto, nós não podemos simplesmente querer destruir nossas tradições. Devemos cuidar para fazer reformas cuidadosas ao invés de querer começar do zero grandes projetos teóricos-abstratos na política.
Esses dois modelos de pensamento político: a ideia de que nós devemos radicalizar e começar do zero e podemos montar a política do jeito que nós queremos versus uma concepção mais prudente que procuro respeitar o conhecimento herdado do passado e manter o tecido social unificado, de alguma maneira estão presentes em todos os conceitos de esquerda e direita das democracias modernas. È uma concepção bem mais consistente e duradoura que aquela que refaz os seus passos até o jacobinismo e girondismo da Revolução Francesa.
O SIGNIFICADO HISTÓRICO DE ESQUERDA E DIREITA
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