Olá Galera. Na atividade/aula anterior fomos apresentados, em linhas gerais, ao Projeto documental sobre a rota da escravidão chamado Sankofa. Hoje analisaremos os dois primeiros episódios da série que tratam da Rota do tráfico, propriamente dita, e de alguns lugares de memória da escravidão. No Brasil, é o Cais do Valongo, no Rio de Janeiro, que é analisado. E no Atlântico, iniciamos o nosso estudo pelos lugares da escravidão no arquipélago de Cabo Verde. Estudamos nessa atividade em particular o conceito de Tráfico de Escravos.
SANKOFA: EPISÓDIO 1 - E ANTES DA ESCRAVIDÃO?
No primeiro episódio da série, os protagonistas contam o processo de construção do projeto, desde a pesquisa feita em Portugal com o Comitê da Rota dos Escravos da Unesco até a definição dos lugares a serem visitados. É nesse contexto que é lançada a questão que nortearia toda a viagem, e que ainda hoje é uma questão histórica fundamental: E antes da escravidão? Como viviam? De onde vieram? Quais valores trouxeram aqueles que criaram - aquilo de que somos feitos?
O TRÁFICO TRANSATLÂNTICO
As estimativas apontam para a
chegada de mais de 12 milhões de africanos ao continente. O que não significa
que somente 12 milhões foram retirados da África. Desses 12 milhões, mais de
40% desembarcou no território brasileiro. É interessante observar que as
dificuldades de se encontrar agências de viagens que levassem a essa rota
denuncia o descaso das autoridades e desconhecimento brutal acerca da África subsaariana
que sai do circuito turístico-comercial.
AS ROTAS DO TRÁFICO
Foram 4 (quatro), as rotas do tráfico transatlântico de escravos para o Brasil:
1. Rota da Guiné (África Ocidental) – Cabo-Verde/Senegal/Guiné -Bissau com destino principal ao Maranhão;
2. Rota da Mina (África Ocidental) - Gana/Togo/Benim/Nigéria com destino à Bahia;
3. Rota de Angola (África Central) – Angola – com destino ao Nordeste;
4. Rota de Moçambique (África Oriental) – Moçambique – com destino ao Rio de Janeiro.
O CAIS DO VALONGO
O documentário foi feito no contexto do processo de patrimonialização do Cais do Valongo, no Rio de Janeiro, o principal porto de recepção de escravizados trazidos do continente. O Cais do Valongo, que recebeu cerca de 1 milhão de pessoas traficadas pelo tráfico transatlântico, é lugar privilegiado de memória da escravidão no Brasil.
No final do século XVIII, houve uma mudança do mercado de escravos da Praça XV (área nobre do Rio de Janeiro do império) para a enseada do Valongo. A oligarquia beneficiária da escravidão não queria conviver com o espetáculo da chegada desses corpos nus, maltratados e malcheirosos. Além disso, havia o preconceito racista de que os africanos traziam moléstias e doenças em seus corpos.
Essa mudança reforçou o surgimento do mercado de escravos do Valongo. Trata-se de uma série de casas e negócios ligados a essa atividade crescente na região do Valongo. Surge, também, uma série de novos serviços como o “lazareto”, para onde eram levados os doentes para serem curados; e o cemitério dos pretos novos.
A descoberta recente do Valongo se deu durante o processo de revitalização do comércio que desenterrou uma camada soterrada pelas diversas transformações que ocorreram nos anos seguintes dando lugar ao Cais da Imperatriz e, mais tarde, à Praça do Comércio.
SANKOFA: EPISÓDIO 2 - CABO VERDE
Essa África que está em nós,
que habita o Brasil é uma África diversa, que tem mais 400 anos de história,
boa parte vivida sob o regime da escravidão. Portanto, não é possível entender
a nossa história, e preservar a nossa memória e identidade sem investigar a
própria escravidão.
CABO VERDE
Cabo Verde foi o primeiro
entreposto de comércio de africanos escravizados no transatlântico. De
arquipélago desabitado no início do século XV foi transformado no ponto de
partida para o tráfico transatlântico de pessoas.
Cabo Verde recebia as
embarcações portuguesas repletas de mercadorias, degredados e povos africanos
capturados e trazidos do continente. Foi assim que Cabo Verde se tornou a primeira
sociedade multirracial dos trópicos.
O TRÁFICO NEGREIRO
Toda a economia colonial das
Américas era baseada na escravidão. Portanto, não havia possibilidade do Brasil
se desenvolver nesse período sem a participação dos africanos. É nesse contexto
que surge o tráfico negreiro.
O tráfico era uma atividade
altamente rentável que envolvia um grande número de comerciantes americanos que
adquiriam e comercializavam pessoas. Trata-se de um negócio em que seres
humanos estão comprando e vendendo outros seres humanos reduzidos à condição de
escravidão.
Os africanos eram
comercializados para trabalhar nas lavouras e minas de ouro, prata e ferro; servir
aos homens brancos em suas casas; ou mesmo para gerarem renda para os seus
senhores como “escravos de ganho”.
A captura dos africanos era
inicialmente feita nas comunidades do litoral, mas na medida que a demanda por
escravos foi crescendo foi preciso avançar em direção ao interior do
continente. A caminhada, do interior até o litoral era uma violência à parte que
penalizava e fragilizava as pessoas, e em muitos casos matava, muitos desses
homens e mulheres.
Depois desse processo de captura,
preparação para vinda, aquisição pelos comerciantes e transporte até o navio
negreiro, os africanos eram acondicionados nos porões dos navios negreiros e expostos
à condições insalubres e humilhantes, inimagináveis para nós, homens do século
XXI. E nessas condições, esses homens e mulheres faziam viagens que poderiam
durar de 30 à 45 ou 60 dias até o destino.
No interior dessas embarcações,
as pessoas eram transportadas, atadas umas às outras (devido ao risco de
sublevações), sem condições de garantir higiene (imagine 400 pessoas empilhadas
umas sobre as outras, fazendo suas necessidades fisiológicas e adoecendo ao
lado de outras pessoas!)
Os documentos históricos
mostram que os navios negreiros tinham cheiro de morte, um cheiro que era
sentido há milhares de quilômetros. As estimativas sugerem uma mortalidade
entre 6% e 12%. Enfim, a morte era um componente do tráfico.
Esses homens, mulheres, crianças e velhos se tornaram “malungos”, “irmãos da travessia” – porque compartilhavam do mesmo navio negreiro. E essa irmandade se estendeu para vários campos como as irmandades religiosas. Era uma resposta a essa situação de interdição da sociedade branca e escravocrata.
O pelourinho, símbolo da dor e do sofrimento, foi ressignificado pela população da cidade velha em Cabo Verde. Assim, também, aconteceu em Salvador nos anos 80 quando surgiu um movimento cultural muito forte com os afoxés e os blocos afros da Bahia que ressignificaram o pelourinho dando a ele um caráter de resistência cultural.
O lugar da insubordinação, da dor e do sofrimento é transformado no espaço da convivência, da construção de uma nova sociabilidade.
Como ressignificar em nosso tempo, o lugar da dor e do castigo?
O pelourinho não é apenas o lugar do castigo individual, é também, uma referência de uma punição exemplar e pública de toda a comunidade negra. O desafio é não permitir que o pelourinho seja “naturalizado” em nossa experiência. O comercio de africanos escravizados foi uma tragédia, um crime contra a humanidade. Mas pode, também, ser lugar da afirmação daquilo que nos une e compartilhamos.
FORMULÁRIO DE QUESTÕES
Ao terminar sua leitura, clique no formulário (abaixo) e responda às questões propostas. Lembre-se que assim que o formulário for enviado, ele será encaminhado, diretamente, para o professor:
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