ATIVIDADE 9: ESCRAVIDÃO E CULTURA AFRICANA-AFROBRASILEIRA

 

Olá Galera, 

Dando continuidade ao nosso estudo da História africana e afrobrasileira, vamos analisar os episódios 3 e 4 que tratam do Senegal e da Guiné-Bissau na África ocidental. Vamos estudar os conceitos de escravidão, e de diversidade cultural africana e afrobrasileira e a dimensão corporal na cosmovisão ancestral das culturas africanas e afrobrasileiras. 


EPISÓDIO 3: SENEGAL E MARANHÃO

ILHA DE GORÉE - SENEGAL

O Senegal, apesar do número de africanos traficados para o Brasil não ser tão grande, guarda um importante monumento da memória da escravidão: a casa dos escravos na Ilha de Gorée.

Em Dakar, capital do Senegal, tem um monumento em bronze: monumento da renascença africana. Fica, também, em Dakar, uma grande mesquita muçulmana, de frente para o Oceano Atlântico. É uma belíssima mesquita de arquitetura árabe tradicional, reveladora de uma africana muçulmana.

A casa dos escravos da ilha de Gorée é uma casa rosa, grande, com um pátio central e uma escadaria que leva aos cômodos dos senhores de escravos. Na parte inferior há celas onde os negros ficavam aprisionados até a chegada dos navios. No centro do pátio havia uma porta de saída para o mar, a chamada Porta do “Não-Retorno”, por onde saíam os escravizados para não mais retornar para África.

O Senegal tem uma importância grande para a história da escravidão porque se situa numa região de confluência do Rio Senegal e do Rio Gâmbia, uma região conhecida como a Senegâmbia, de onde partiram escravos para o Maranhão, no Norte e Nordeste do Brasil. Essa região que constituía a rota da alta Guiné foi um dos primeiros portos de tráfico de escravos no continente, embora a quantidade de escravos que vieram para o Brasil seja relativamente pequena em relação a outros portos.

Os africanos trazidos para o Maranhão trabalhavam no algodão, na produção de arroz e, também, na cana-de-açúcar, embora não na mesma escala do nordeste, onde a produção da cana de açúcar era bem mais intensa. (Carlos Benedito – UFMA)

A ESCRAVIDÃO – UMA INSTITUIÇÃO MUITO ANTIGA

A escravidão é uma instituição muito antiga na história da humanidade, ela vai ser encontrada no período medieval, no mundo antigo. A palavra escravo deriva de eslavo, porque o eslavo era o escravo preferido pelos europeus até a chegada dos tempos modernos.  Eles vinham da região do mar cáspio, do mar de aral e do mar negro. Eles formavam boa parte da escravaria que existia na Itália, na Grécia, na Espanha, em Portugal, e também nos países árabes. (Alberto da Costa e Silva – Embaixador/africanista)

A relação entre escravidão e africanos, entre escravidão e cor da pele será realizada na época moderna. Houve um tempo em que a escravidão se justificava por que um povo não cultuava o mesmo deus, ou não falava a mesma língua do povo dominante.

No caso da escravização de africanos, ela vai ter como justificativa, por um lado, a criação de uma série de ideias no mundo cristão-católico da contrarreforma. A expansão do capitalismo colonial é também a expansão da fé cristã. Mas a ideia da “cor da pele” como justificativa da escravidão, vai se dar quando o argumento da fé não for mais suficiente. Será preciso sustentar essa perspectiva em argumentos biológicos de inferioridade. O nascimento do argumento racial se dará justamente quando os argumentos linguísticos e religiosos estiverem se esgotado.

"Não se estuda o escravismo sem emoção e sem um sentimento de vergonha e remorso. Embora a escravidão seja quase tão antiga quanto o homem na história e esteja presente no desenrolar de quase todas as culturas, é com extrema dificuldade que conseguimos estudá-la como algo que ficou no passado e lhe pertence completamente. A ela se aplicaria a afirmação de que não há história que não seja contemporânea, pois com a régua dos sonhos do presente medimos os sucessos que narramos. Esse sentimento de remorso e vergonha provoca em muitos a tentação de vestir a sua escravidão com roupas que não as de silícios, mas, sim, com os panos pobres da servidão doméstica. Tentamos suavizar a nossa escravidão, para melhor apresentá-la aos outros. Ou para reduzir a inquietação da consciência. Pertenço, porém, aos que não creem em escravidão branda. E não considero ser sempre menos violenta a que se deu dentro da casa e da família, a chamada escravidão doméstica. Suspeito, ao contrário, que, quanto mais perto o escravo estivesse do senhor, mais estava sujeito ao abuso, à humilhação e à crueldade." ("A África e os africanos na história e nos mitos", Alberto da Costa e Silva)

REINOS AFRICANOS

Na África antes dos europeus chegarem já havia grandes impérios, cidades-Estado. Havia diferentes formas de organização social. O reino de Ashu, talvez seja o reino mais antigo da história da humanidade. Ele já existia na região da Etiópia antes da época de Jesus Cristo. Era um Estado muito bem organizado. E do lado do Atlântico tivemos o reino de Gana. Um reino muito importante porque forneceu grande parte do ouro empregado na idade média. E de certa forma, boa parte do ouro do Brasil era devido à Gana por que foi de lá que saiu uma população com todo um conhecimento sobre a extração e manuseio do ouro para forjar objetos. (Alberto da Costa e Silva)

O TAMBOR DE CRIOULA E A DIVERSIDADE CULTURAL DO MARANHÃO

A diversidade cultural de grupos africanos que veio para o Maranhão deixou uma herança cultural muito rica com as expressões dos ritmos, das danças, dos batuques, na linguagem, na religiosidade, no jeito de ser do povo maranhense. (Carlos Benedito – UFMA)

Entre essas expressões temos o Tambor de Crioula, do Maranhão, que é uma dança que já vem há séculos. É uma dança remanescente da África. O Tambor de Crioula é considerado Patrimônio Imaterial desde 2007.

O bairro da liberdade, no maranhão, é a maior concentração de negros da América Latina e é rico em manifestações, como o Tambor de Crioula. Por isso, há uma luta pelo reconhecimento do bairro como Quilombo Urbano por que a comunidade é remanescente de povos tradicionais da África.

POR QUÊ UMA HISTÓRIA DA CULTURA AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA?

Como alterar essas relações inter-étnicas e interpessoais que são maléficas para a população negra? Estou convencido de que o caminho é o conhecimento da própria população negra. (Kátia Régis - UFMA)

É muito importante que a população brasileira tenha acesso a história e cultura africana e afro-brasileira que foi omitida, distorcida, cheia de visões estereotipadas e preconceituosas, por que é justamente isso que vai contribuir para que a população negra se veja de uma outra maneira, a partir de uma outra perspectiva. (Kátia Régis - UFMA)

É uma longa história de deturpação, preconceito e racismo no olhar que foi construído sobre a África. Essa negação da História da África, negação que chegou a alguns importantes pensadores que disseram que a “África não tinha História”, causou um desserviço não só para a História da África, mas para a História da humanidade. A nossa humanidade ficou incompleta, e a nossa identidade, no caso dos brasileiros, ficou incompleta. É como se faltasse algo fundamental pra nós olharmos pra nós mesmos. (Mônica Lima – UFRJ)

EPISÓDIO 4: GUINÉ: CORRENTES, ÁRVORES E MONUMENTOS

A África é o berço da humanidade. Todas as pesquisas apontam para o continente como o lugar em que surgiram e se desenvolveram as principais instituições gregárias das sociedades humanas. E daí, o ser humano migrou para todas as outras regiões.

Cacheu era um rio bastante sinuoso que adentrava a mata da região e fazia a ligação das aldeias afastadas com o porto. Não por acaso, os colonizadores construíram um forte onde eles aprisionavam os cativos capturados nas aldeias até a saída do navio negreiro.

A identificação de Cesar, o fotógrafo, com uma comunidade de jovens se deu na partilha da comida. Comendo com a mãos, juntos em volta da panela, cria-se um momento de intimidade e reconhecimento de uma ancestralidade partilhada.

O encontro com uma comunidade rural de pescadores numa aldeia ribeirinha do Rio Cacheu, na Guiné-Bissau, também foi revelador da estrutura social de uma comunidade tradicional. O registro de um grupo de mulheres na colheita do arroz e dos homens retornando do trabalho em regiões mais distantes foi singular.

Quando perguntado sobre o significado das correntes que permaneciam nas árvores, o líder da comunidade disse: “as correntes não são importantes... lá as crianças brincam, se penduram. Mas, toda vez que uma árvore morre ou cai, nós plantamos outra para as correntes continuarem sobre as árvores.” 


A capoeira é considerada Patrimônio Imaterial da 
Humanidade pela UNESCO desde 2014.

A CAPOEIRA E O CORPO NEGRO

Antes da chegada dos portugueses na região havia ali os mandigas, um povo islamizado que fazia todo o comércio da região desde o Mali até a Guiné e Senegal. E essa cultura mandinga vai estar ligada ao domínio das artes mágicas, do contato com os espíritos, de uma apropriação do sagrado. E todo esse conhecimento armazenado cruza o Atlântico e chega ao Brasil. (Mònica Lima – UFRJ)

A cosmovisão africana, de maneira geral, não se sustenta pela palavra apenas, e nem pela verdade. Ela se sustenta pela força, a força de poder realizar as coisas. Essa força é uma potência, é isso que os baianos chamam de axé. Axé uma coisa que o corpo tem, que se acumula, que se conquista na relação dos mais velhos com os mais novos, depende de caráter, que depende de rituais. E ao invés da palavra, a movimentação rítmica do corpo. Portanto, o corpo ocupa um lugar central na cosmovisão africana. O corpo é um templo.

Falar em capoeira é falar em ancestralidade, é falar em África. Ela é jogo, é brinquedo, é energia, mas , também, é uma forma de luta. (Mestre Bamba, capoeirista) então, para o capoeirista tradicional, o corpo de mandinga é um corpo feiticeiro. É um corpo capaz de evitar a faca, de fazer a esquiva. A capoeira é a arte do engano, da ilusão... você pensa que vai bater com a mão e bate com a perna. Os grandes capoeiristas são mandingueiros.

O mestre Bimba, na Bahia, resgatou a possibilidade de se fazer capoeira nas ruas. Ele percebeu que não havia mais lugar para aquela capoeira de “bater em gente”, que a situação urbana havia mudado. Então, ele criou a “escola de capoeira”. Qual foi o resultado? A capoeira passou a ser frequentada por crianças, por mulheres e a reverenciar as figuras e paradigmas negros. (Muniz Sodré)

Existe uma similaridade cultural na África, apesar dessa imensa diversidade, e essa semelhança se dá na relação com o corpo. É uma linguagem que tem a ver com a circularidade da movimentação dos corpos. Essa relação com o corpo é muito diferenciada dessa perspectiva que temos no ocidente. A visão ocidental é centrada no pensamento, na mente, nessa relação cartesiana que opõe mente e corpo. Essa relação não existe na relação que os africanos tem com a sua corporeidade. (Maurício Castro – Historiador) 


FORMULÁRIO DE QUESTÕES

Ao terminar sua leitura, clique no formulário (abaixo) e responda às questões propostas. Lembre-se que assim que o formulário for enviado, ele será encaminhado, diretamente, para o professor:

ATIVIDADE 9; ESCRAVIDÃO E CULTURA AFRICANA-AFROBRASILEIRA

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