Olá Galera,
Dando continuidade ao nosso estudo da História africana e afrobrasileira, vamos analisar os episódios 3 e 4 que tratam do Senegal e da Guiné-Bissau na África ocidental. Vamos estudar os conceitos de escravidão, e de diversidade cultural africana e afrobrasileira e a dimensão corporal na cosmovisão ancestral das culturas africanas e afrobrasileiras.
EPISÓDIO 3: SENEGAL E MARANHÃO
ILHA DE GORÉE - SENEGAL
O Senegal, apesar do número de
africanos traficados para o Brasil não ser tão grande, guarda um importante
monumento da memória da escravidão: a casa dos escravos na Ilha de Gorée.
Em Dakar, capital do Senegal,
tem um monumento em bronze: monumento da renascença africana. Fica, também, em
Dakar, uma grande mesquita muçulmana, de frente para o Oceano Atlântico. É uma belíssima
mesquita de arquitetura árabe tradicional, reveladora de uma africana muçulmana.
A casa dos escravos da ilha de Gorée
é uma casa rosa, grande, com um pátio central e uma escadaria que leva aos cômodos
dos senhores de escravos. Na parte inferior há celas onde os negros ficavam
aprisionados até a chegada dos navios. No centro do pátio havia uma porta de
saída para o mar, a chamada Porta do “Não-Retorno”, por onde saíam os
escravizados para não mais retornar para África.
O Senegal tem uma importância
grande para a história da escravidão porque se situa numa região de confluência
do Rio Senegal e do Rio Gâmbia, uma região conhecida como a Senegâmbia,
de onde partiram escravos para o Maranhão, no Norte e Nordeste do Brasil. Essa
região que constituía a rota da alta Guiné foi um dos primeiros portos de
tráfico de escravos no continente, embora a quantidade de escravos que vieram
para o Brasil seja relativamente pequena em relação a outros portos.
Os africanos trazidos para o
Maranhão trabalhavam no algodão, na produção de arroz e, também, na cana-de-açúcar,
embora não na mesma escala do nordeste, onde a produção da cana de açúcar era
bem mais intensa. (Carlos Benedito – UFMA)
A ESCRAVIDÃO – UMA INSTITUIÇÃO
MUITO ANTIGA
A escravidão é uma instituição
muito antiga na história da humanidade, ela vai ser encontrada no período
medieval, no mundo antigo. A
palavra escravo deriva de eslavo, porque o eslavo era o escravo preferido pelos
europeus até a chegada dos tempos modernos.
Eles vinham da região do mar cáspio, do mar de aral e do mar negro. Eles
formavam boa parte da escravaria que existia na Itália, na Grécia, na Espanha,
em Portugal, e também nos países árabes. (Alberto da Costa e Silva – Embaixador/africanista)
A relação entre escravidão e
africanos, entre escravidão e cor da pele será realizada na época moderna. Houve
um tempo em que a escravidão se justificava por que um povo não cultuava o
mesmo deus, ou não falava a mesma língua do povo dominante.
No caso da escravização de
africanos, ela vai ter como justificativa, por um lado, a criação de uma série
de ideias no mundo cristão-católico da contrarreforma. A expansão do
capitalismo colonial é também a expansão da fé cristã. Mas a ideia da “cor
da pele” como justificativa da escravidão, vai se dar quando o
argumento da fé não for mais suficiente. Será preciso sustentar essa
perspectiva em argumentos biológicos de inferioridade.
O nascimento do argumento racial se dará justamente quando os argumentos
linguísticos e religiosos estiverem se esgotado.
"Não se estuda o escravismo sem emoção e sem um sentimento de vergonha e remorso. Embora a escravidão seja quase tão antiga quanto o homem na história e esteja presente no desenrolar de quase todas as culturas, é com extrema dificuldade que conseguimos estudá-la como algo que ficou no passado e lhe pertence completamente. A ela se aplicaria a afirmação de que não há história que não seja contemporânea, pois com a régua dos sonhos do presente medimos os sucessos que narramos. Esse sentimento de remorso e vergonha provoca em muitos a tentação de vestir a sua escravidão com roupas que não as de silícios, mas, sim, com os panos pobres da servidão doméstica. Tentamos suavizar a nossa escravidão, para melhor apresentá-la aos outros. Ou para reduzir a inquietação da consciência. Pertenço, porém, aos que não creem em escravidão branda. E não considero ser sempre menos violenta a que se deu dentro da casa e da família, a chamada escravidão doméstica. Suspeito, ao contrário, que, quanto mais perto o escravo estivesse do senhor, mais estava sujeito ao abuso, à humilhação e à crueldade." ("A África e os africanos na história e nos mitos", Alberto da Costa e Silva)
REINOS AFRICANOS
Na África antes dos europeus
chegarem já havia grandes impérios, cidades-Estado. Havia diferentes formas de
organização social. O reino de Ashu, talvez seja o reino mais antigo da
história da humanidade. Ele já existia na região da Etiópia antes da época de
Jesus Cristo. Era um Estado muito bem organizado. E do lado do Atlântico
tivemos o reino de Gana. Um reino muito importante porque forneceu grande parte
do ouro empregado na idade média. E de certa forma, boa parte do ouro do Brasil
era devido à Gana por que foi de lá que saiu uma população com todo um
conhecimento sobre a extração e manuseio do ouro para forjar objetos. (Alberto da
Costa e Silva)
O TAMBOR DE CRIOULA E A DIVERSIDADE
CULTURAL DO MARANHÃO
A diversidade cultural de
grupos africanos que veio para o Maranhão deixou uma herança cultural muito
rica com as expressões dos ritmos, das danças, dos batuques, na linguagem, na
religiosidade, no jeito de ser do povo maranhense. (Carlos Benedito – UFMA)
Entre essas expressões temos o
Tambor de Crioula, do Maranhão, que é uma dança que já vem há séculos. É uma
dança remanescente da África. O Tambor de Crioula é considerado Patrimônio
Imaterial desde 2007.
O bairro da liberdade, no
maranhão, é a maior concentração de negros da América Latina e é rico em
manifestações, como o Tambor de Crioula. Por isso, há uma luta pelo reconhecimento
do bairro como Quilombo Urbano por que a comunidade é remanescente de povos
tradicionais da África.
POR QUÊ UMA HISTÓRIA DA CULTURA
AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA?
Como alterar essas relações inter-étnicas
e interpessoais que são maléficas para a população negra? Estou convencido de
que o caminho é o conhecimento da própria população negra. (Kátia Régis - UFMA)
É muito importante que a
população brasileira tenha acesso a história e cultura africana e afro-brasileira
que foi omitida, distorcida, cheia de visões estereotipadas e preconceituosas,
por que é justamente isso que vai contribuir para que a população negra se veja
de uma outra maneira, a partir de uma outra perspectiva. (Kátia Régis - UFMA)
É uma longa história de
deturpação, preconceito e racismo no olhar que foi construído sobre a África. Essa
negação da História da África, negação que chegou a alguns importantes
pensadores que disseram que a “África não tinha História”, causou um desserviço
não só para a História da África, mas para a História da humanidade. A nossa
humanidade ficou incompleta, e a nossa identidade, no caso dos brasileiros,
ficou incompleta. É como se faltasse algo fundamental pra nós olharmos pra nós
mesmos. (Mônica Lima – UFRJ)
EPISÓDIO 4: GUINÉ: CORRENTES, ÁRVORES E
MONUMENTOS
A África é o berço da
humanidade. Todas as pesquisas apontam para o continente como o lugar em que
surgiram e se desenvolveram as principais instituições gregárias das sociedades
humanas. E daí, o ser humano migrou para todas as outras regiões.
Cacheu era um rio bastante
sinuoso que adentrava a mata da região e fazia a ligação das aldeias afastadas
com o porto. Não por acaso, os colonizadores construíram um forte onde eles
aprisionavam os cativos capturados nas aldeias até a saída do navio negreiro.
A identificação de Cesar, o
fotógrafo, com uma comunidade de jovens se deu na partilha da comida. Comendo com
a mãos, juntos em volta da panela, cria-se um momento de intimidade e
reconhecimento de uma ancestralidade partilhada.
O encontro com uma comunidade
rural de pescadores numa aldeia ribeirinha do Rio Cacheu, na Guiné-Bissau, também
foi revelador da estrutura social de uma comunidade tradicional. O registro de
um grupo de mulheres na colheita do arroz e dos homens retornando do trabalho
em regiões mais distantes foi singular.
Quando perguntado sobre o significado das correntes que permaneciam nas árvores, o líder da comunidade disse: “as correntes não são importantes... lá as crianças brincam, se penduram. Mas, toda vez que uma árvore morre ou cai, nós plantamos outra para as correntes continuarem sobre as árvores.”
A CAPOEIRA E O CORPO NEGRO
Antes da chegada dos
portugueses na região havia ali os mandigas, um povo islamizado que fazia todo
o comércio da região desde o Mali até a Guiné e Senegal. E essa cultura
mandinga vai estar ligada ao domínio das artes mágicas, do contato com os espíritos,
de uma apropriação do sagrado. E todo esse conhecimento armazenado cruza o Atlântico
e chega ao Brasil. (Mònica Lima – UFRJ)
A cosmovisão africana, de maneira
geral, não se sustenta pela palavra apenas, e nem pela verdade. Ela se sustenta
pela força, a força de poder realizar as coisas. Essa força é uma potência, é
isso que os baianos chamam de axé. Axé uma coisa que o corpo tem, que se
acumula, que se conquista na relação dos mais velhos com os mais novos, depende
de caráter, que depende de rituais. E ao invés da palavra, a movimentação rítmica
do corpo. Portanto, o corpo ocupa um lugar central na cosmovisão africana. O corpo
é um templo.
Falar em capoeira é falar em
ancestralidade, é falar em África. Ela é jogo, é brinquedo, é energia, mas ,
também, é uma forma de luta. (Mestre Bamba, capoeirista) então, para o
capoeirista tradicional, o corpo de mandinga é um corpo feiticeiro. É um corpo
capaz de evitar a faca, de fazer a esquiva. A capoeira é a arte do engano, da
ilusão... você pensa que vai bater com a mão e bate com a perna. Os grandes
capoeiristas são mandingueiros.
O mestre Bimba, na Bahia,
resgatou a possibilidade de se fazer capoeira nas ruas. Ele percebeu que não
havia mais lugar para aquela capoeira de “bater em gente”, que a situação urbana
havia mudado. Então, ele criou a “escola de capoeira”. Qual foi o resultado? A
capoeira passou a ser frequentada por crianças, por mulheres e a reverenciar as
figuras e paradigmas negros. (Muniz Sodré)
Existe uma similaridade cultural na África, apesar dessa imensa diversidade, e essa semelhança se dá na relação com o corpo. É uma linguagem que tem a ver com a circularidade da movimentação dos corpos. Essa relação com o corpo é muito diferenciada dessa perspectiva que temos no ocidente. A visão ocidental é centrada no pensamento, na mente, nessa relação cartesiana que opõe mente e corpo. Essa relação não existe na relação que os africanos tem com a sua corporeidade. (Maurício Castro – Historiador)
FORMULÁRIO DE QUESTÕES
Ao terminar sua leitura, clique no formulário (abaixo) e responda às questões propostas. Lembre-se que assim que o formulário for enviado, ele será encaminhado, diretamente, para o professor:
Nenhum comentário:
Postar um comentário