A História do Brasil não é um produto masculino, como os homens brancos e poderosos querem fazer acreditar. Nossa história é repleta de situações em que a presença e participação das mulheres deram o tom do país. Vejam alguns exemplos dessa historiografia pouco conhecida:
Ana Pimentel (séc. XVI)
Esposa de Martim Afonso de Sousa de quem recebeu uma procuração para administrar a capitania de São Vicente, o que fez durante mais de dez anos. Introduziu o plantio da cana de açúcar e fez cartas de doação de sesmaria. Autorizou os colonos a colonizarem o planalto paulista e, com isto, ocorreu a interiorização da colônia.
Dandara (séc. XVII)
Lutou em defesa dos quilombolas e na construção do Quilombo dos Palmares. Foi a companheira de Zumbi, o líder do quilombo, com quem teve três filhos. Participou da luta dos quilombolas contra as expedições que atacaram Palmares.
Tereza de Benguela (séc. XVIII)
Foi, por vinte anos, rainha do quilombolo Quariterê, no Mato Grosso. O quilombo tinha uma população de negros, índios e cafuzos. Cultivava algodão, milho, feijão, mandioca e banana. Possuía teares, fabricando tecidos que eram comercializados com os colonos. Teria sido morta em 1770 em uma expedição contra o quilombo.
Esperança Garcia (séc. XVIII)
Escravizada que viveu na região de Oeiras, no Piauí. Alfabetizada, ela escreveu uma carta ao presidente da província do Piauí denunciando os abusos físicos cometidos pelo seu proprietário contra ela e seu filho pequeno. Por isso, ela recebeu, em 2017, o título simbólico de Primeira Mulher Advogada do Piauí.
Bárbara de Alencar (1767-1837?)
Avó de José de Alencar, ela participou ativamente da Revolução Pernambucana de 1817 junto com dois filhos e um irmão. Defensora dos ideais republicanos, acabou sendo presa e mantida em cárcere por três anos, em Recife e depois Salvador. É considerada a primeira presa política do Brasil.
Maria Quitéria (1792 - 1853)
Lutou na guerra de independência da Bahia desafiando a proibição paterna e fingindo-se de homem com o nome soldado Medeiros. Destacou-se nos combates e no manejo das armas. Descoberta sua identidade, permaneceu no exército onde foi reconhecida por sua coragem. É considerada “heroína da Pátria”.
Nísia Floresta (1810 – 1885)
Precursora dos ideais de igualdade e independência da mulher no Brasil. Aos 22 anos escreveu seu primeiro livro, “Direitos das mulheres e injustiça dos homens”. Abriu um colégio para meninas que não se limitava a ensinar costura e trabalhos domésticos, mas, também gramática, matemática, geografia etc.
Ana Néri (1814-1880)
Serviu como enfermeira voluntária na Guerra do Paraguai durante quase todo o conflito. Mesmo não tendo formação sobre enfermagem, aprendeu tudo o que era possível e fez um trabalho exemplar. Tratava igualmente os feridos dos dois lados da guerra, o que irritava o comando do Exército Brasileiro. Foi condecorada e recebeu homenagens do imperador D. Pedro II.
Maria Felipa de Oliveira (séc. XIX)
Essa pescadora e marisqueira da ilha de Itaparica, Bahia, lutou na guerra de independência da Bahia. Liderou mulheres negras e índios tupinambás para combater os portugueses chegando a incendiar 40 embarcações portuguesas. É considerada “heroína da Pátria”.
Anita Garibaldi (1821 - 1849)
Conhecida como “Heroína dos dois Mundos” lutou na Guerra dos Farrapos ao lado de Giuseppe Garibaldi pela implantação da República do Rio Grande. Mais tarde, combateram o ditador argentino Juan Manuel Rosas, em Montividéu. Na Itália, lutaram pela unificação italiana.
Maria Firmina dos Reis (1825-1917)
Professora negra, nascida em São Luís, Maranhão é autora de “Úrsula” (1859), o primeiro romance abolicionista escrito por uma mulher no Brasil. Fundou em sua cidade a primeira escola mista gratuita do estado. Apesar dos poucos recursos, adotou várias crianças e cuidava de numerosos afilhados.
Maria Tomásia Figueira Lima (1826-1902?)
Nascida em Sobral, Ceará, dedicou-se à luta pela abolição. Participou, em 1882, da fundação da Sociedade das Senhoras Cearenses Libertadoras que conquistou 84 cartas de alforria. O imperador D. Pedro II doou 1 conto de réis para ajudar a Sociedade. Em 1884, os deputados aprovaram a abolição em toda província do Ceará.
Chiquinha Gonzaga (1847 – 1935)
Primeira mulher a fazer do piano e da música uma profissão, ela foi uma grande compositora incluindo ritmos populares como maxixe, lundu e umbigada. Foi pioneira na criação de músicas carnavalesca com seu “Ó Abre-Alas”. Era a favor da abolição e da República.
Narcisa Amália de Campos (1852 - 1924)
Foi a primeira mulher a trabalhar como jornalista profissional no Brasil. Combateu a opressão da mulher e o regime escravista. Escreveu muitos artigos de cunho feminista e republicano. Seu livro de poesias, "Nebulosas" (1872) recebeu elogios de Machado de Assis e de D. Pedro II. Enfrentou acusações mentirosas de que não era a autora daqueles poemas.
Bertha Lutz (1894 - 1976)
Bióloga formada na Sorbonne, em Paris, lutou contra as discriminações sofridas pelas mulheres no campo científico. Fundou a Liga pela Emancipação Intelectual da Mulher e defendeu a educação pública, laica e mista, e ensino secundário para todos. Participou ativamente para a conquista do voto feminino, o que ocorreu em 1932.
Enedina Alves Marques (1913 - 1981)
Foi a primeira engenheira negra no Brasil, formada, em 1945, pela Universidade Federal do Paraná. Integrou a equipe de engenheiros que atuou na construção da usina hidrelétrica Capivari-Cachoeira do Paraná. Vestia um macacão nas obras e uma arma na cintura que disparava para o alto para se fazer respeitar entre os homens da construção.
Carolina Maria de Jesus (1914-1977)
Descendente de escravos, ela foi à escola apenas até o 2º ano, porque teve que trabalhar com a mãe na lavoura. Morava em uma favela em São Paulo com seus três filhos. Em 1955, começou a escrever um diário relatando suas vivências com a fome, a maternidade solitária e a miséria. Em 1960, o diário foi publicado com o título “Quarto de Despejo” alcançando enorme sucesso.
Maria da Penha (1945)
Ela foi vítima de dupla tentativa de feminicídio por parte do seu marido na época, o que a levou a ficar paraplégica. Lutou durante anos para que a justiça fosse feita. Seu nome foi dado à lei de 2006 que protege a mulher contra a violência doméstica e familiar. É farmacêutica bioquímica pela Universidade Federal do Ceará.
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