SACERDOTES, GUERREIROS E TRABALHADORES
Os livros sobre a IDADE MÉDIA falam muito de CAVALEIROS e DAMAS, mas pouco dizem sobre a vida da grande maioria que tinha que trabalhar duro para sustentar essa elite em suas armaduras brilhantes e vestidos alegres. Seus CASTELOS esplêndidos com fartura de comida e bebida eram supridos pelo trabalho árduo de centenas de servos que plantavam e colhiam, à duras penas, com o trabalho de suas mãos, o produto de sua riqueza.
A SOCIEDADE FEUDAL era composta por TRÊS CLASSES (ou ORDENS) fundamentais: SACERDOTES, GUERREIROS e TRABALHADORES; sendo que os últimos é que produziam para ambas as outras duas classes, a eclesiástica e a militar. E qual era o seu trabalho? O trabalho AGRÍCOLA. Cultivando o grão ou guardando o rebanho para utilizar a lã no vestuário.
As terras eram distribuídas em “FEUDOS”. – Um feudo consistia em pouco mais do que uma aldeia e os acres de terra que a circundavam e nos quais o povo da aldeia trabalhava. Cada propriedade tinha um SENHOR que morava com sua família numa moradia fortificada, o CASTELO, onde era servido por seus servos e escravos.
A terra ARÁVEL era dividida em duas partes: o DOMÍNIO, ou MANSO DO SENHOR, e os MANSOS SERVIS, que eram “ARRENDADOS” aos servos que trabalhavam a terra. As terras eram cultivadas de forma rudimentar. A sabedoria popular, na sua melhor expressão, levara à CULTURA DE FAIXAS, organização típica de lavoura de subsistência que evitava o desgaste dos solos.
Portanto, as duas características mais importantes daquela economia eram a DIVISÃO DA TERRA ARÁVEL em TERRAS DE DOMÍNIO e MANSOS SERVIS e o CULTIVO EM FAIXAS ao invés de campos contínuos. Uma terceira característica: os arrendatários não trabalhavam apenas em suas terras, mas também nas TERRAS DO SENHOR.
O CAMPONÊS vivia uma vida miserável. Suas OBRIGAÇÕES e deveres para com o senhor o mantinham na pobreza e na miséria absoluta por quase todo o tempo de sua existência. Mas eles NÃO ERAM ESCRAVOS no sentido rigoroso do termo. Se o escravo era parte da propriedade e poderia ser comprado e vendido com sua família ou individualmente, o servo não poderia ser vendido FORA DE SUA TERRA. Mudando o dono da terra, o camponês apenas teria um NOVO SENHOR.
Esta era uma diferença fundamental porque concedia ao servo uma espécie de SEGURANÇA que o escravo nunca teve. Por pior que fosse o seu tratamento, o servo possuía FAMÍLIA e LAR e a utilização de alguma TERRA.
Havia vários graus de SERVIDÃO:
- SERVOS DE DOMÍNIO: Eram permanentemente ligados à casa do senhor, ou seja, trabalhavam em seus campos durante todo tempo.
- SERVOS DE FRONTEIRA: Camponeses muito pobres que mantinham um pequeno arrendamento à orla da aldeia.
- ALDEÕES: Não possuíam sequer um arrendamento, apenas uma cabana, e trabalhavam para o senhor em troca de COMIDA.
- VILÕES: Eram servos com MAIORES PRIVILÉGIOS pessoais e econômicos. Em geral, possuíam deveres bem PRECISOS, o que naquela sociedade representava uma considerável VANTAGEM. Outros, pagavam apenas uma parcela de sua produção ao senhor (semelhante ao que fazem hoje os meeiros).
Havia ainda alguns CIDADÃOS: Pequenos proprietários independentes que pagavam uma taxa ao seu senhorio em troca de proteção.
Na sociedade feudal, jamais se pensou em termos de igualdade entre senhor e servo. Era tudo muito SIMPLES e DESIGUAL: o servo trabalhava a terra e o senhor manejava o servo. Se o servo não poderia ser vendido sem a terra, tampouco poderia deixá-la. Se o servo tentava fugir e era capturado- não havia dúvidas de que deveria voltar.
Não poderia também casar-se fora de seus domínios a não ser com permissão especial. Se o servo morria, seu herdeiro poderia herdar o arrendamento mediante o pagamento de uma taxa.
O direito era exercido com base no “COSTUME” do feudo. Uma disputa entre servos seria resolvida no tribunal do senhor, de acordo com o “costume”.
Na verdade, o senhor do feudo, como o servo, não possuía, definitivamente, a TERRA. Era arrendatário de outro senhor superior a ele na escala de SUSERANIA e VASSALAGEM a que estava sujeito.
O feudo em si podia ser a única propriedade de um cavaleiro, ou uma pequena parcela de um grande domínio que constituía parte de um feudo, ou uma imensa concessão de terra. À medida que o tempo corria, as propriedades maiores tendiam a ser divididas em arrendamentos menores. Isso porque os senhores descobriram a necessidade de ter tantos vassalos quantos pudessem, e a única forma de consegui-lo, era cedendo parte de sua terra.
A terra produzia todas as mercadorias de que se necessitava e, assim, a TERRA e apenas a terra era a CHAVE DA FORTUNA de um homem. Para vencer as guerras era preciso aliciar tanta gente quanto possível, e a forma de fazê-lo era contratar guerreiros, concedendo-lhes terra em troca de certos pagamentos e promessa de auxilio quando necessário. E assim, os príncipes e nobres que mantinham terras em troca de serviço militar concediam-nas, por sua vez, a outros, nas mesmas condições.
Evidentemente, um amplo leque de deveres e obrigações devidas pelo vassalo se estabelecia em todos os campos desde pagar um resgate pelo seqüestro de um senhor ou receber uma “ajuda” quando da sagração de um filho do senhor como cavaleiro.
A IGREJA era parte e membro do sistema feudal. Constituía-se como uma organização que se estendia por todo o mundo cristão, mais poderosa, maior, mais antiga e duradoura que qualquer coroa. Alem disso, possuía riqueza no único sentido que prevalecia na época: TERRAS (O chamado “PODER TEMPORAL”). A igreja foi a maior proprietária de terras no período feudal. Chegou a se tornar proprietária de “entre um terço e metade das terras da Europa Ocidental”.
Nos primórdios do feudalismo, a igreja foi um elemento dinâmico e progressista. Preservou a cultura do Império Romano. Incentivou o ensino e fundou escolas. Ajudou os pobres, cuidou das crianças desamparadas em seus orfanatos e construiu hospitais para os doentes. Em geral, os administradores eclesiásticos (da igreja) administravam melhor suas propriedades e aproveitavam muito mais suas terras que a nobreza leiga.
Enquanto os nobres dividiam suas propriedades, a fim de atrair simpatizantes, a igreja adquiria mais e mais terras. A igreja também aumentou seus domínios através do “dízimo” (taxa de 10% sobre a renda de todos os fiéis). À medida que a igreja crescia enormemente em riqueza, sua economia apresentava tendências a superar sua importância espiritual.
Enfim, o clero e a nobreza constituíam as classes governantes. Controlavam as terras e o poder que delas provinha. A igreja prestava ajuda espiritual, enquanto a nobreza, proteção militar. Em troca exigiam o pagamento das classes trabalhadoras, sob a forma de cultivo das terras.
Fonte: História da Riqueza do Homem, Leo Huberman. Ed. Zahar/RJ.
Síntese para o Ens. Fundamental feita pelo Professor Celso Barreiro.
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