Para continuar nosso estudo sobre o Segundo Reinado, vamos dar um passo adiante com uma reflexão mais complexa sobre o tema. Observe a imagem acima:
A imagem retrata o monarca sendo coroado com um ramo de oliveira por uma indígena que porta uma bandeira. A gravura original sugere o uso do amarelo, verde e do azul, embora nessa cópia acinzentada não seja possível definir as cores.
Um dos maiores filósofos da modernidade, Espinosa, chamava atenção em suas em suas obras para o caráter afetivo da política, para ele, a política era feito por afeto ainda que fosse uma atividade profundamente racional.
Esse debate não é novo para nós: lembra-se da aula em que chamei atenção para esse fato causando um impacto na turma com um simples beijo? Enfim, se a política é feita com afeto, a natureza simbólica dos monumentos, datas e valores nacionais não pode ser uma característica desprezada.
Observe a força simbólica do quadro acima:
1. O verde e amarelo são as cores da Casa dos Habsburgo (Leopoldina) e Bragança (D. Pedro II). Contudo, a portadora da bandeira (uma indígena) - sugere um diálogo com o sonho idílico do paraíso natural do "Novo Mundo" descoberto pelos grandes navegadores;
2. O ramo faz alusão aos produtos agrícolas da economia de exportação do Brasil monárquico, principalmente, o café. Mas, vê-se, também, o tabaco, uma das chamadas "drogas do sertão". Ironicamente, os ramos de oliveira eram utilizados pelos césares, os imperadores romanos, cujo autoritarismo contrasta com a imagem de monarquia moderna, de tipo parlamentarista, que se tenta implantar no exterior.
Vejam como a historiadora Lília Schwarzs analisa o quadro:
“Com seu manto real em verde e amarelo, as cores da casa dos Habsburgo e Bragança, mas que lembravam também os tons da natureza do “Novo Mundo”, cravejado de estrelas representando o Cruzeiro do Sul e, finalmente, com o cabeção de penas de papo de tucano em volta do pescoço, D. Pedro II foi coroado imperador do Brasil. O monarca jamais foi tão tropical. Entre muitos ramos de café e tabaco, coroado como um César em meio a coqueiros e paineiras, D. Pedro transformava-se em sinônimo da nacionalidade”. (SCHWARCZ, L. M. As barbas do imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos. São Paulo: Cia das Letras, 1998.)
Essa estratégia para exaltar o nacionalismo faz todo sentido se considerarmos os desafios que cercavam a corte à época da coroação com o risco de desintegração do Estado à exemplo do ocorrido no restante das colônias recém-emancipadas da América.
Conflitos internos como a Revolta da Praieira, em Pernambuco, que mostravam um descontentamento não somente das elites, mas dos segmentos urbanos médios, e até de alguns movimentos de origem popular. A Praieira foi fonte de fortes dores de cabeça porque, apesar de estarem longe de propor mudanças estruturais, o manifesto dos Praieiros sequer falava em abolição da escravidão. Mas, a extinção do Poder Moderador do imperador era um risco alto demais para ser tolerado.
De qualquer forma, é preciso reconhecer que aquela época seria marcada por profundas transformações que custariam, mais adiante, como dizem alguns historiadores, a própria coroa. De fato, 1850, com a extinção do tráfico de escravos da África para o Brasil, e a mudança gradativa do perfil demográfico da população pela entrada dos imigrantes e a promulgação da lei de terras, promoverá um tsunami na sociedade brasileira.
Enquanto o café, o "ouro verde", muda o centro econômico do país do nordeste para o sudeste, e vai ocupando as terras devolutas agora vendidas pelo estado pela Lei de Terras; a indústria e a classe operária imigrante vão modificando a vida nas cidades e implantando um novo mercado de trabalho com sotaque italiano, espanhol e português nas cidades brasileiras. è a imigração de massa que veio para ficar!
Essas e outras mudanças farão da Era que se inicia em 1850, uma era de novidades e inovações. Mauá, o empresário visionário é um exemplo desse espírito, ainda que as contradições entre o modelo agroexportador e o industrial estejam cada vez mais latentes.
Enfim, novos tempos, novas lutas. E não tardará muito para que as contradições entre indústria nascente e economia agroexportadora, trabalho escravo x trabalho livre, liberais e conservadores, monarquistas e republicanos, venham por em xeque o regime de Pedro II. Mas isso, já é tema para uma próxima aula.
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