domingo, 14 de fevereiro de 2021

CARNAVAL EM TEMPOS DE PANDEMIA

 

Quarentena, isolamento social, uso de mascaras, álcool gel... Todas essas coisas existiam muito antes que o COVID – 19 aparecesse por essas bandas do Planeta Terra. Mas. é inegável que adquiriram um sentido nunca antes imaginado em nossa vida! Para dar conta desse desafio, precisamos nos reinventar em 2020. Organizamos, produzimos e publicamos atividades no Blog da Escola (que estava até desativado há anos!); fizemos aulas on-line pelo zoom e pelo Google Meet; produzimos até vídeos e programas de televisão!

E não foi só a escola que precisou se reinventar, NÃO! Nossos hábitos diários, a organização das lojas e supermercados, as saídas controladas com uso de máscaras, as missas e cultos religiosos, as festas... tudo mudou! Até o Carnaval, uma das mais antigas manifestações e rua teve de se adaptar aos novos tempos e as exigências sanitárias e de distanciamento social. Conheça a história dessa antiga manifestação que  é um dos mais significativos patrimônios culturais imateriais do Brasil (abaixo):

HISTÓRIA DO CARNAVAL BRASILEIRO

E esse é o tema dessa nossa primeira atividade, a “ATIVIDADE ZERO”. Chamamos ela de ZERO para chamar atenção de que ela vem antes ainda da primeira atividade de História, propriamente dita. É uma atividade que estou propondo para todos os alunos da escola – do 6º ao 9º ano.

Essa atividade, e a nossa primeira aula on-line de História, será desenvolvida na semana de carnaval, ou imediatamente após a quarta-feira de cinzas. Para isso, estamos propondo uma reflexão sobre O CARNAVAL, um dos mais importantes Patrimônios Culturais Imateriais do Povo Brasileiro.

O CARNAVAL

Quando a maestrina Chiquinha Gonzaga compôs a marchinha "Ó Abre Alas", em 1899, a primeira composição criada para o Carnaval para embalar o desfile de entrada do cordão Rosa de Ouro, do bairro Andaraí no Rio de Janeiro, ela jamais poderia imaginar que estava dando um passo importante para popularizar o Carnaval

Nascida em "berço de ouro", Chiquinha Gonzaga, uma mulher corajosa que escandalizaria as altas rodas com seu estilo de vida e um musical popular. Chiquinha Gonzaga participou ativamente, alguns anos antes, ao lado do poeta Castro Alves e do jornalista José do Patrocínio, da campanha abolicionista encantando os cafés-concerto do movimento que tinha por objetivo acabar com a escravidão do Brasil. 

A marchinha parecia profetizar a passagem de uma sociedade agrária, colonialista e monarquista para uma nova, urbana, moderna e republicana. Mal sabia ela, que sua marchinha daria o tom da saída do carnaval dos salões chiques da burguesia para as ruas e avenidas do rio de Janeiro, aa capital do Brasil. Vejam essa marchinha, a primeira imortalizada pelo Carnaval, numa versão divertida do grupo "música animada":

E por que estamos dizendo que O CARNAVAL é PATRIMÔNIO – CULTURAL – IMATERIAL? Vejamos o que diz o IPHAN (o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional):

“Os bens culturais de natureza imaterial dizem respeito àquelas práticas e domínios da vida social que se manifestam em saberes, ofícios e modos de fazer; celebrações; formas de expressão cênicas, plásticas, musicais ou lúdicas; e nos lugares (como mercados, feiras e santuários que abrigam práticas culturais coletivas). A Constituição Federal de 1988, em seus artigos 215 e 216, ampliou a noção de patrimônio cultural ao reconhecer a existência de bens culturais de natureza material e imaterial. (Fonte: Site do IPHAN: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/234)

Vocês entenderam direitinho? Então, os patrimônios são os BENS CULTURAIS do povo: os saberes, os monumentos, os ofícios, os lugares... e IMATERIAIS é a qualidade daqueles patrimônios que não são objetos, como os prédios, as esculturas, os monumentos de pedra e de madeira, ou seja, aquilo que NÃO é material, concreto, que pode ser tocado pelas mãos.


CARNAVAL EM TEMPOS DE PANDEMIA

Voltemos ao Carnaval. Você já pensou como é complicado pensar e fazer o Carnaval sem ir para a avenida desfilar? Foi preciso uma criatividade gigante para “Não deixar o samba morrer”, em tempos de pandemia. 


Protesto da Vai-Vai pelo rebaixamento, 2019.

Vejamos como uma Escola de Samba de São Paulo, a Vai-Vai construiu nesse ano o seu “carnaval em tempos de pandemia”. A experiência foi  registrada pela rainha da bateria da Vai-Vai e por um Youtube:


SANKOFA: UMA LIÇÃO DE CIDADANIA QUE NASCE NA AVENIDA

O tema da escola de samba Vai-Vai nesse ano: “Sankofa”, não poderia ser mais interessante para um olhar marcado por uma atitude historiadora em nossos dias. SANKOFA é nome dado a uma ave mitológica pelo Povo Assanti (ou Axante), da Costa da Guiné na África. A costa da Guiné foi um dos principais portos de onde as pessoas eram trazidas para serem escravizadas no Brasil, após serem capturadas, e trancafiadas nos tumbeiros (os chamados navios negreiros)

Veja como a escolha do tema de 2021 é justificada na sinopse entregue para a comissão julgadora do carnaval para justificar a escolha do tema:

“Contam que no mundo antigo não havia histórias e nem o saber, por isso era muito triste viver por aqui. Insatisfeito, ANANSE – o ser mitológico que era homem e também era aranha – foi até os céus para negociar com NYAME, O Grande Criador, o preço de seu baú de histórias e ensinamentos. Para conceder a ele este tesouro, NYAME lhe fez uma proposta: ele deveria presenteá-lo com quatro seres indomáveis, criaturas encantadas que há muito haviam escapado de seus domínios. Com o negócio realizado, ANANSE – malandro, sagaz e muito esperto, conquistou o baú, que era na verdade uma grande cabaça contendo as dádivas tão desejadas. Maravilhado com o próprio feito, ele desceu do céu numa teia de prata e levou a cabaça para o povo de sua aldeia.Ao quebrá-la, todas as histórias e ensinamentos divinos se espalharam pela terra, através do uso do ADINKRA, um conjunto de ideogramas cujos símbolos expressam ideias através de provérbios. Sendo utilizado ainda hoje pelos AXANTES, o ADINKRA é um dentre os vários sistemas de escrita da África pré-colonial. Ao longo do tempo, ele foi se desenvolvendo e incorporando aspectos da filosofia, acompanhando o momento histórico de seu povo e absorvendo contos folclóricos e culturais.

O SANKOFA, o pássaro sagrado africano que dá nome ao nosso enredo, faz parte deste curioso e fascinante conjunto. Carregando como significado o ensinamento de que “nunca é tarde para voltar atrás e buscar o que ficou perdido”, este símbolo se tornou o norte dos grandes pensadores do movimento negro moderno, chegando até a nossa Pequena África – O Bixiga.

Então, a figura da AVE NEGRA que curva a cabeça para trás em busca de seu bem mais precioso, conduzirá a narrativa do Grêmio Recreativo Cultural e Social Escola de Samba VAI-VAI para o próximo carnaval. Neste voo em liberdade, através de seus pares, as maravilhosas Adinkras, cantaremos as memórias desta ÁFRICA AXANTE e SOBERANA, onde o pensamento floresceu e a riqueza foi inimaginável. Desfilará um novo horizonte para a atualidade, um espelho para onde se deve olhar e se reconhecer. SOMOS TODOS SOBERANOS! SOMOS VAI-VAI!

Viu só que interessante? A Vai-Vai quer recuperar a História dos povos africanos, que saíram soberanos da África, e foram reduzidos à escravidão nas Américas, inclusive tendo negada a sua própria História. Resgatar a história destes homens e mulheres que tiveram o elo de suas vidas rompido dramaticamente pelo episódio da escravidão.

Ao reunir os pedaços de suas memórias, a Vai-Vai pretende reestabelecer esta conexão, unindo seus descendentes-herdeiros com as civilizações ancestrais – aquelas que engendraram a escrita, o conhecimento e a grandiosidade que permeiam a verdadeira história africana. 

E você? O que SANKOFA sugere para seu o processo pessoal de “retornar à origem” para “transformar” a Vida?

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